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domingo, 23 de junho de 2013

Tolerância no combate ao desemprego



A mudança, por norma, é uma coisa boa. Mas é uma necessidade da evolução que causa alguns transtornos e contratempos. Cabe-nos enfrentar isso da melhor maneira possível, de modo a tornar essa mudança mais rápida e proveitosa ou combatê-la, tornando-a mais lenta e penosa. Seja como for, ninguém pode fugir ao facto que o Mundo está a sofrer uma grande transformação que toca a todos das mais variadas maneiras. Hoje estive num local que conheço e visito com frequência desde criança: o Jardim Municipal de Oeiras. Talvez por ser uma das minhas memórias de sempre, nutro um carinho especial por este local que, infelizmente, não vejo tratado da melhor maneira. Seja como for, a sua beleza, localização e oásis de harmonia e bem estar com 73 anos de existência, fazem deste jardim um ponto incontornável de visita. Depois de uma ida à praia, é rotina habitual terminar o dia com um cafézinho, gelados para os miudos e uma voltinha nos baloiços. Sentada na esplanada do jardim, iniciei uma conversa com  pessoa que se encontra agora a explorá-la. Em conversa com o senhor, desabafei que a desculpa da crise veio mais uma vez mostrar uma feira de Oeiras fraquinha, com pouco que ver, ao contrário de outros tempos, em que se enchia de barraquinhas, com grandes organizações por parte dos Bombeiros Voluntários e da ADO (Associação Desportiva de Oeiras). As grandes sardinhadas que por ali se faziam, as barracas de rifas, o artesanato português e claro, todos os carrinhos de choque e carroceis que faziam as delicias das crianças, estão cada vez mais votadas às memórias dos que como eu, cresceram naquela zona. A meio da conversa, perguntei se, tendo um espaço tão grande, nunca tinha pensado em receber ali musica ao vivo. Respondeu que embora tudo fosse muito dispendioso, de vez em quando isso acontecia. Lamentou que a Câmara Municipal não ajudasse a promover esses eventos, deixando tudo ao seu encargo e ainda sacando algum dinheiro com imposição de licenças. Além disso, referiu que da ultima vez que contratou alguém para tocar uns acordes, teve problemas, não com a Câmara, não com os responsáveis do jardim, mas sim com um morador próximo, que chamou a policia às três da tarde de um Domingo, queixando-se do barulho. E é sobre isto que vos gostaria de falar hoje. A mudança que se instalou na vida das pessoas não nos faz voltar às origens e termos a humildade de viver com menos dinheiro, mas com mais união como antigamente. A falta do dinheiro impõe muitas vezes que as férias sejam passadas dentro de casa, que não se faça a ida ao café depois de jantar como dantes, ou simplesmente que não se faça um passeio numa noite de verão apenas para se desmoer a refeição. Com o capitalismo instalado, torna-mo-nos máquinas de consumo que parecem já nada saber fazer sem uns trocos no bolso. A depressão instalada e geral, transformou-nos em máquinas sem um pingo de iniciativa para ter vontade sequer de dar um simples passeio com a família, sob pena de ter que dizer não à compra de um gelado ou um café. E a atitude perante isto é a de um egoísmo extremo: se eu não posso estar como quero, então ninguém pode. Tudo incomoda. A musica incomoda, o riso das crianças incomoda, os carros dos que ainda têm dinheiro para meter gasolina incomoda. Esquece-mo-nos que foi este egoísmo que nos trouxe aqui, com o pensamento de que se não tenho nada a ganhar com isto ou aquilo, há que destruir o vizinho do lado. Partindo do principio de que este comerciante apenas dispõe da época de Verão para fazer algum dinheiro, não será excessivo da parte deste morador fazer uma queixa na policia por tão pouco? Claro que incomoda, mas não ouvi falar do incomodo dos moradores aquando da feira de Oeiras que se prolongava noite dentro, com alguns bons concertos intercalados com a musica dos carroceis. Talvez porque por imposição da Câmara Municipal a música fosse outra. Quando pensamos que este comerciante está a fazer um grande investimento em prol do desenvolvimento do seu espaço comercial, esquece-mo-nos do que pode provir disso. A equação é simples: se musica ao vivo numa esplanada de um jardim atrai mais publico, logo ele vai necessitar de mais ajuda, logo ele vai empregar (nem que seja nos meses de Verão) mais pessoas, logo menos desemprego. Em contrapartida, o que ganhou o senhor que fez queixa: desabafou, tirou das patrulhas de rua dois ou mais agentes que podiam estar a evitar furtos ou desordem publica, enervou-se e enervou os que tentam ganhar a vida com o esforço do seu trabalho, privou os que por ali passeavam num Domingo de ouvirem alguma musica, privou um ou mais desempregados de ganharem um ordenado. Não quero dizer com isto que não falemos quando nos sentimos incomodados, mas sim que avaliemos o que a nossa atitude impulsiva possa causar a terceiros. Que nos deixemos mais uma vez de nos preocupar com o nosso próprio umbigo e que pensemos que um pouco de tolerância pode fazer toda a diferença nos tempos difíceis que vivemos. Pois, quase que aposto que se este morador tivesse algo a ganhar com o comerciante, esta queixa nunca teria existido. Chega do pensamento pequeno de que o Mundo gira à nossa volta e de que ninguém sofre mais do que nós. Chega de combatermos as nossas frustrações no vizinho do lado, quando parece ser melhor destruir o que o outro constrói do que fazer melhor que ele. Pois, relembro, meus amigos, que foi este egoísmo que nos trouxe onde nos encontramos hoje.



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