Bem vindos!

Conta-me histórias é um blog onde vos mostro alguns dos meus trabalhos e onde podemos falar de tudo um pouco. Apresenta certos assuntos que acho relevantes e interessantes, sempre aberta a conselhos da vossa parte no sentido de o melhorar. Obrigado pela vossa visita. Fico à espera de muitas mais.

domingo, 23 de outubro de 2011

Violência (de)mente


Finalmente saiu. Por alguns minutos, por algumas horas, nunca se sabe ao certo. A única certeza é a de uma paz podre e ansiosa, da qual não se sabe nada. Apenas que durante os minutos ou as horas da sua ausência, se pode deixar de suster a respiração, na esperança vã de suportar mais um dia.

Nem sempre foi assim. Existiu um tempo em que a sua partida, por breve que fosse, prometia abandono e desespero. Nesse tempo, o bater da porta implicava sempre uma despedida agonizante, um implorar ridículo para que ficasse, só mais um minuto, só mais uma hora, só mais uma noite. Sem saber, estava a depositar nas suas mãos o poder que me restava. Inocentemente pensava que a triste figura da chantagem emocional era uma arma minha, nunca desconfiando que era uma faca de dois gumes. Entrei no jogo, pensando possuir a fórmula mágica de prender alguém, apenas pela necessidade que sentia de o ter a meu lado, de o amar.

Muito se fala da violência doméstica e das marcas físicas deixadas por quem usa da força para subjugar o seu parceiro. Raramente se fala de um tipo de violência subtil e matreira que se instala quase sem se dar por isso, mas que deixa marcas invisíveis a olho nu. O poder da mente pode matar.

Começa com uma discussão, por um motivo ridículo e forçado. O predador fica sempre no controle da jogada, observando a presa, antecipando as suas reacções. Por norma, o predador tem sempre resposta e pergunta para tudo, visto que o seu principal objectivo é de baralhar e confundir a presa, forçando-a a sentir culpa, medo, rejeição e acima de tudo a exterminar a fraca auto estima que possui.

O que pretende? Nada. Apenas a satisfação de poder humilhar, massacrar e reduzir o seu alvo a uma condição longe da humana, somente porque pode. Ou porque simplesmente a presa se deixa apanhar, sem forças para se soltar de uma teia bem estruturada, que se torna o seu modo de vida. Todos os dias, sem excepção, a presa é confrontada com os seus erros, com os seus defeitos e mesmo as suas qualidades são escarniadas e ridicularizadas, lembrando constantemente que tudo o que é, não chega para ser alguém.

É assim, bem devagarinho que tudo começa. Esta realidade torna-se mais assustadora quando envolve as crias. Neste caso, a presa tem que se manter atida à sua condição, não porque quer, não porque não tem forças para se libertar, mas sim porque alguém que depende de si, entrou neste jogo sujo e desonesto.

Por isso, quando sai, já não é com mágoa que o vejo partir. Apenas me invade uma sensação de liberdade, que não dura, mas alivia. Para trás deixa uma vontade louca de, ao voltar, apenas encontrar as paredes desta casa, que não consigo aceitar como minha. Seria a minha vingança. Uma tolice que me encheria de orgulho, pois traria novas oportunidades de ser feliz.

Já o amei. Sei que já o amei. Numa altura em que ingenuamente pensava que o amor chegava. Não me recordo o que foi que me fez amá-lo tanto. Amá-lo ao ponto de lhe dar a chave, para que me roubasse o pouco que possuo. Talvez seja o facto de não saber amar.

A prisão desta relação acaba com a minha vida. A vontade de me levantar todas as manhãs é a mesma de me dirigir a uma forca. Não, não penso em suicídio. Ou melhor, já pensei, mas não encontro razão para o fazer. Os meus filhos relembram-me todos os dias, a razão de continuar viva. São a melhor ironia do meu destino, as âncoras que me mantem presa a esta realidade e ao mesmo tempo, as mãos que me salvam do abismo.

Acredito que nada acontece por acaso e que tudo o que se cruza no nosso caminho traz ensinamento. Mas ainda não sei que lição tirar de uma relação que apenas me causa sofrimento e que me suga a alma. Terei que fugir? Terei que ficar e cumprir a pena? Mas que raio de pena é esta que não teve direito a julgamento e que não informa sobre o crime cometido? Que crime cometi eu para ser torturada no anonimato, sem hipótese de defesa? Quem foi que nomeou este carrasco sem piedade, que espera que me erga, para logo me desferir mais um golpe certeiro, que deita por terra toda a minha identidade. Já não sei quem sou. Será que algum dia soube? Será que sou o que ele diz, ou sou o que a minha alma grita?

A minha alma. A minha essência. Aquilo que apenas pode ser revelado nas folhas de um qualquer papel, ou no teclado do computador. Nenhum ser humano poderá sentir ou ver a minha verdadeira essência. A desconfiança que existe no meu coração, não permite esse tido de abertura. Não permite que me mostre, sob pena de ficar no lugar de presa, mais uma vez. E assim se fecha a concha, assim se volta à origem. Aqui, neste sitio calado e solitário que nos permite falar com Deus, na esperança vã de uma qualquer resposta.

Gosto cada vez mais deste silêncio. Deste espaço no tempo que me permite ser apenas, sem medo de acusações ou de alguém eu aponte os meus defeitos. Gosto do que o isolamento da raça humana me dá. Pensando bem, é assustador gostar tanto de estar isolada. Mas olhando em redor, tirando as âncoras, tudo o resto me parece morto e sem graça.

Há quem diga que as qualidades estão lá, mas esses apenas me aliviam a dor em forma de pequenos balões de oxigénio que depressa se esgotam. Viveria melhor se o fizesse na ignorância, mas sei que mente quando me diz que não valho nada. Sei que apenas me quer ferir quando diz que não presto. Sei que usa a arma da infelicidade para me tentar tapar os olhos. E assim, torna-se mais doloroso, como se tivéssemos tido um acidente grave de viação e estivéssemos conscientes de tudo, o tempo todo.

Depois das suas investidas, resta pouco de mim. As dores da alma transformam-se em físicas, dificultando ainda mais o regresso à vida. Por sorte ou por pena, existem pequenos intervalos entre uma e outra. Nesses rasgos de tempo, volto a escrever, volto a sentir algo cá dentro que preciso desesperadamente de deitar cá para fora. Como se tivesse tomado um purgante, seguido de uma grave crise de verborreia.

E assim vão passando os minutos, as horas, os dias, os anos…

O relógio não pára, mas sinto que o tempo se esgota.


















terça-feira, 18 de outubro de 2011

Água, um bem essencial



Fui contactada telefonicamente por uma empresa, de seu nome Aquathin, que me fez um pequeno questionário sobre o consumo de água, em minha casa. Passada uma semana, ligaram de novo para me dizer que tinha sido "contemplada" com uma "Cleaning Ball"  ( bola mágica que cria uma onda energética, que quebra as combinações de hidrogénio da molécula da água em pequenos aglomerados e força-os a estarem activos, aumentando assim o movimento molecular. A acção da força aumenta a penetração nos tecidos, resultando numa lavagem que elimina a sujidade da roupa, sem uso de detergentes.)  Além deste prémio, iria receber a visita de um técnico que me faria um teste à água, para saber o que andamos nós a beber. Claro que quando a esmola é grande, o pobre desconfia e percebi que me tentavam vender algo. De qualquer modo, aceitei agendar a visita do tal técnico. Posso dizer-vos que fiquei realmente impressionada e estupefacta com a quantidade de sujidade que ingerimos na água canalizada. Rapidamente a minha torneira deixou de parecer uma simples torneira, para ser vista como uma saída de esgoto. Os testes realizados, onde não faltou a electrólise da água, foram muito elucidativos em relação à qualidade das águas canalizadas. Excesso de cloro, excesso de metais pesados, excesso de aditivos, excesso de porcaria, causadores de todo o tipo de doenças desde cancro, a pedra no rim, a entupimento das veias arteriais e outras. Enquanto fazia os vários testes, acompanhado por um cem numero de frasquinhos, comparava a água que saia da torneira com outra, filtrada por uma máquina que trazia consigo. Logo fiquei a saber que, tal como eu previra, se tratava de uma demonstração para uma posterior aquisição deste aparelho mágico. Realmente fiquei impressionada com o milagre da purificação da água, pois o paladar com que fica depois de filtrada, é o de uma água pura, de uma qualquer nascente do Norte do país. Mas o pior estava para vir. Acompanhando esta maravilha da tecnologia, vinha a conta, a módica quantia de 2500 euros, que poderiam ser repartidos em prestações suaves, por cinco anos.
Fiquei de dar resposta, na certeza porém de que não vou, com muita pena minha, adquirir. Mas, como sempre, fiquei a matutar sobre tudo isto. Continuo sem respostas, mas com algumas perguntas. Se a água que consumimos é assim de tão baixa qualidade, e se existe um modo de proporcionar água pura a toda a população, porque estará apenas ao alcance de quem tem poder de compra? Porque não incorporar um sistema destes em todas as casas? Porque sai caro? Pois bem, e se em vez de pagarmos saneamentos de custo elevado e que pelos vistos não saneiam nada, ou taxas que nem sabemos do que são, ou acertos mal explicados, pagássemos um pouco mais, mas por serviços de qualidade como este? Acho justo que se todos poluímos, todos deveríamos pagar por isso, mas em troca, deveríamos ser mais bem servidos.
 Dei uma vista de olhos no site da empresa. http://www.aquathin.pt/default.aspx?id=2
Foi então que descobri a frase que explica parte dos meus porquês. "O resultado - H2O Pura, a água mais pura disponível no mercado."
Isto não é para quem quer, mas sim para quem pode. Ela está disponivel no mercado, mas apenas para quem pode comprá-la. Quanto aos outros, bem podem morrer de cancro, pedra no rim, ou doenças vasculares. Sem dinheirinho, não há purificaçãozinha.
E depois, lá ficamos nós a maldizer a nossa condição económica e a condenarmo-nos por sermos maus pais, não podendo proporcionar uma melhor qualidade de vida aos nossos filhos, quando existe uma multinacional americana que até tem a resposta para a maioria das doenças que atormentam o Mundo. Basta filtrar a água. Ou por outra, basta ter dinheiro para filtrar a água.


domingo, 16 de outubro de 2011

Vamos de comboio ou de carro?


 Torna-se extremamente cansativo falar e ouvir sempre o mesmo, mas as noticias sobre dinheiro mal gasto em tempo de crise, não deixam de chegar aos ouvidos de todos nós. Muito bem fala o antigo ministro Bagão Félix quando diz que o sacrifício no corte de subsídios, não deveria ser apenas limitado aos funcionários públicos. Da minha parte não me importaria de fazer sacrifícios, não fosse a minha condição monetária, um sacrifício por si só. Mas como podem pedir mais, quando na pagina seguinte do jornal saem noticias como esta:  "Empresa da CP encomenda 13 carros de luxo para chefes".
O gasto de 237 120 euros em carros de alta cilindrada para os directores da CP, leva-me a crer que existe um poder concentrado, com o único objectivo de acabar com os mais desfavorecidos. Às vezes parece que existe um complou para gastar este mundo e o outro, enquanto tantos de nós passam pelas maiores dificuldades. Quando foi que o ser humano se deixou de importar com o resto do mundo, em seu proveito próprio? Será que esta sempre foi  uma caracteristica humana e que os restantes são seres deficientes, por terem consciência? Será que em vez de nos referirmos a uma pessoa caridosa e bondosa para com o seu semelhante, de humana, vamos ter que lhe passar a chamar deficiente?
"Aquela senhora é muito deficiente. Sempre a ajudar os mais necessitados."; "Aquele homem é um humano, sempre a roubar e a atraiçoar os pobres e desfavorecidos."
Pode ser que a moda pegue e que juntamente com o novo acordo ortográfico, se reinvente o significado de algumas palavras. Por exemplo, a palavra indignado pode perfeitamente ser o sinónimo de português.
Pois é, andamos todos muito indignados, enquanto os outros, os mesmos de sempre continuam a fazer grandes vidas, pouco se importando com o resto. Mas deixo uma pergunta no ar? De que lado se coloca você? Se tivesse oportunidade para viver em casas de luxo, com carros topo de gama, com férias pagas para todo o lado, com um ordenado chorudo ao fim do mês, com os seus filhos a terem aulas nos melhores colégios, recusava parte de tudo isto, para ajudar os mais desfavorecidos?
Posso com toda a certeza dizer que se a sua resposta é sim, esse deve ser o motivo pelo qual não tem nada hoje em dia.
No entanto se a sua resposta for não, se calhar tem que repensar a sua posição de indignado.

(imagens retiradas da Internet)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O uivo do Lobo

Tive o prazer de assistir à entrevista a António Lobo Antunes, que passou na RTP 1. Minto. Não tive um prazer, tive vários. Como foi bom poder beber um pouco da fonte do conhecimento e da cultura deste grande senhor, que fará para sempre parte da herança do meu país. Com palavras simples, em geito de quem não tem mais expectativas a serem defraudadas, com a coragem daquele que já nada teme, sem nada a perder, a não ser o tempo, que sente a escaciar, disse tudo. Mostrou o sentimento de impotência e de revolta que se espelha cada vez mais nos rostos de todos (ou quase todos) os portugueses. Pergunta num tom cansado e de desalento: "Quem foram os malandros que fizeram isto ao meu país?" Com certeza que ele sabe. Com certeza que todos nós sabemos. Mas ninguém se atreve a apontar nomes, nesta democracia podre, que condena homens inocentes e perpetua cargos políticos aos maiores ladrões da História. Bebi as suas palavras como se ouvisse aquele avozinho que nos conta histórias de tempos idos, como se elas se estivessem a passar no momento. Falou de algo tão importante como os programas televisivos actuais, ou as chamadas revistas "cor de rosa". Respeito quem gosta de ler essas revistas e ver esses programas, mas concordo quando diz que tudo isso estupidifica a nossa sociedade e nos atrasa a nível cultural. Concordo quando diz que a evolução e o patamar cultural de um povo, se reflecte no seu dia a dia e na sua evolução social e económica. Foi claro e sincero quando disse que apenas tem perguntas e nenhuma solução milagrosa. Tal como todos nós. Mas deixou no ar uma questão pertinente: podemos ser pobres, herdeiros de vidas complicadas, mas somos acima de tudo seres humanos, portadores de uma cabeça e de um cérebro racional. Porque será que raramente paramos para ouvir homens como este, mas perdemos horas do nosso dia a ver programas televisivos que apenas nos mostram o quão fútil, um ser humano pode ser? Porque será que nos custa dar dinheiro por um bom livro, por mês, mas não nos custa comprar um jornal diariamente, onde apenas se fala de mortes, assaltos violentos, crimes de violação, etc.? Será que ao mudar as mentalidades para o que é verdadeiramente valioso, (cultura, valores familiares, amizade, amor ao próximo...) será que poderíamos mudar algo? Será que sem querer, este senhor nos está a indicar um dos caminhos possíveis para um país verdadeiramente democrático? Claro que todos andamos preocupados com o que o futuro nos reserva, mas será esse um motivo verdadeiramente forte para julgarmos aqueles que colocámos no poder e cruzar-mos os braços, esperando que façam o que prometeram? Quantos governantes prometeram e cumpriram?  Quantos de nós estamos neste momento a cumprir com o que prometemos? Eu por exemplo, prometi que daria aos meus filhos uma vida melhor do que a que tive. Mas hoje faço-o com muitas dificuldades e sei que nem sempre lhes dou o que queria. Mas será isso assim tão importante? Será que o que eu quero dar a mais, não passa de capricho? Uma das maiores preocupações no momento são as medidas de austeridade implantadas pelo governo. Compreendo que será muito difícil superar esta prova, quando contamos com os subsídios para colocar as contas em dia. Mas também é certo que durante muitos anos, chegado o Natal, a maior preocupação de todos eram as prendas e chegadas as férias, a maior preocupação era o destino das mesmas. Penso que esta "crise" de que tanto se fala, nunca deixou de existir, revelando-se agora num bicho de sete cabeças, porque a fonte secou e o tempo das vacas gordas se extinguiu. Não é um crise económica, nem financeira, é sim, uma crise social, que embora grave, nos pode fazer mudar as consciências. É acima de tudo, uma oportunidade de fazer diferente, de dizer basta, de optar por arregaçar as mangas, sem nos sentarmos de braços cruzados reclamando a refeição que nos prometeram. É uma oportunidade de deixarmos de ser carneiros que seguem o rebanho, apenas porque todos os outros o fazem. O pior erro de todos, é aquele que se perpétua por medo de fazer diferente. Por isso, não se sinta mal por não dar ao seu filho o ultimo jogo da PSP, não se sinta mal por não poder ter a mesa farta que teve em tempos. Sinta apenas agradecimento por ter comida na mesa, partilhe com os mais novos os Natais de tantas famílias que não têm nada, recordando o verdadeiro significado desta época. E se puder, se tiver forças para tal, partilhe com alguém o pouco que tem. Nem que seja um sorriso. Não porque estamos no Natal, mas sim porque é disso que a vida é feita: de Homens e Mulheres que vivem em sociedade. Transmita aos mais novos o que Ghandi dizia: "No Mundo existe o suficiente para todos, se apenas tomarmos a nossa parte."

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Amigos, amigos, negócios à parte

É sempre bom receber uma voz amiga. Principalmente quando nos sentimos desesperados com as circunstâncias da vida. Por esse motivo e por nos encontrarmos numa situação de crise  sócio-económica, a linha SOS Voz Amiga, que se encontrava desactivada desde 2008, foi reactivada. Criado em 1978, o Centro SOS Voz Amiga é um serviço de ajuda pelo telefone em situações agudas de sofrimento, situações extremas de solidão, angústia, depressão ou risco de suicídio.
Mas atenção, se sofre destes sintomas, tem que esperar até às 21 horas para receber a "voz amiga". É que esta linha de apoio, apenas recebe as chamadas entre as 21 e as 24 horas. Será que fizeram algum estudo em que perceberam que a maioria das pessoas se sente pior de noite, depois do jantar? Será que imaginam que enquanto esperam pelas 21 horas, lhes passa a vontade de se suicidar?
Este serviço, considerado de "primordial importância", não deveria estar ao alcance de todos, a qualquer hora do dia?
Decidi investigar a proveniência desta linha de ajuda e deparei-me com uma novidade (pelo menos para mim). Esta linha de apoio é proveniente da fundação EDP, facto que podem constatar através do site http://www.sosvozamiga.org/ . Tentando saber mais sobre como tudo isto funciona, tentei perceber quem são as pessoas que nos atendem do outro lado da linha. São voluntários que recebem formação de profissionais da área de saúde mental , que se  realiza num contexto de troca de experiências, destinada a ajudar cada candidato a tomar consciência do seu potencial de ajuda e dos seus limites. Pode ainda ler-se no site, o seguinte: "Parte-se do princípio de que todas as pessoas têm capacidade de ajudar, modelados pelas suas experiências de vida." Um dos requisitos para ser voluntário é ter equilíbrio emocional. Penso que mais difícil do que arranjar voluntários, será encontrar voluntários equilibrados emocionalmente, nos dias de hoje. Mas talvez aqui resida a resposta para o numero de horas de atendimento desta linha ser tão reduzido.

Voluntários ainda se vão arranjando, mas voluntários equilibrados emocionalmente, nem por isso.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cantas bem, mas não me alegras!






Tudo é permitido nesta "Republica das Bananas" que hoje comemora 101 anos de existência. Claro que me refiro à Madeira e ao seu divertido Jardim. O povo é quem mais ordena e este dinossauro madeirense, sabe bem o que o povo quer. O povo quer festa, futebol e almoçaradas de borla, mesmo que seja à custa de uma crise que nos manda apertar o resto do cinto. Então vamos lá fazer campanha para ganhar uma maioria absoluta e calar "essa gente do Continente". Que venha o Tony Carreira, o Michael Carreira e mais uma dúzia de carreiras cheias de gente para assistir. Do que vale falar de dividas e dificuldades quando "esta foi a vida que escolhi", está no ar? Vamos mas é inaugurar mini lojas do cidadão. Vamos fazer comícios gigantescos, onde o discurso do Presidente apenas é interrompido por uma musica estridente, em tom de espectáculo de feira. Dancemos então ao som deste disparate que só pode ter lugar num País como Portugal.
Como pode alguém que só fala mal do Continente, exigir seja o que for, depois dos milhões que foram enviados para a Madeira?
Como pode o Sr. João Alberto Jardim exigir seja o que for do Continente, depois de toda a ajuda que recebeu a quando das cheias que arrasaram a Madeira?
Como pode um homem gerar uma divida desta dimensão e ainda dizer, e passo a citar: "O que eu devia ter feito? Devia não ter feito nada à espera que alguém nos desse dinheiro, ou devia ter feito, enquanto houve dinheiro na Europa, nos bancos e no Estado, devia ter feito o que fiz, mesmo à custa da dívida?"
Não me digam que foi uma surpresa geral, o que este senhor andou a fazer durante todos estes anos. Não me digam que ele fez tudo isto sozinho. Respondam-me antes a uma pergunta simples:
Como pode este homem continuar a candidatar-se ao cargo de Presidente da Madeira?
Estarei a ver mal as coisas, ou tudo é permitido no meio politico?
Não será compreensivel aos olhos de qualquer um, que se o meu desempenho numa empresa for prejudicial à mesma, devo ser afastado do meu posto de trabalho?
"Mas afinal, o que é que isso interessa? Eu só vim cá para ver o Tony e beber umas "jecas". Eu nem entendo nada de politica! JARDIM! JARDIM! JARDIM! TONY! TONY! TONY!"

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Carta ao Primeiro Ministro

Exmo. Senhor Primeiro Ministro,
Dr. Pedro Passos Coelho



Escrevo-lhe esta carta, talvez tardiamente, para lhe dar a conhecer uma realidade da qual está provavelmente alheado. Recordo-me que na altura das eleições, o Sr. se referiu aos adultos que frequentam as Novas Oportunidades como ignorantes. Pois bem, vivemos em democracia e talvez por isso, temos que aceitar todas as opiniões, mesmo que não concordemos com elas. Na verdade, o senhor veio vincular uma ideia com a qual muitos portugueses concordam. É quase uma vergonha dizer-se publicamente que se tem uma equivalência do 9º ano ou do 12º, conseguida através do processo de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências).
Concordo que não deveria ser permitido ter acesso à faculdade através de um processo como este. Penso que não será justo para com aqueles que a muito custo, tiram o seu curso, pagando propinas exageradamente altas e estudando afincadamente por vários anos, comparativamente à brevidade com que tudo se passa num processo desta natureza.
 Inscrevi-me nas Novas oportunidades e basicamente o que me foi pedido, foi que escrevesse uma auto biografia. Que relatasse toda a minha vida, desde que nasci, até aos dias de hoje. Sinceramente, não conseguia entender como poderia a minha história de vida demonstrar fosse o que fosse sobre as minhas capacidades ou competências, mas depressa entendi que tenho vindo a desenvolver capacidades e competências, que embora não estejam validadas por nenhum curso ou empresa,   me permitem vingar no mundo laboral e noutros. Se não, vejamos:
Fiquei sozinha com o meu pai com quinze anos e fui dona de casa, cozinhando, lavando e engomando, enquanto estudava.
Sou mãe de dois filhos, um com dez anos e outro com dois. Não tirei nenhum curso, mas tive que aprender a educá-los da melhor maneira, trabalho todos os dias para que não lhes falte nada. Nada do outro Mundo, dirá o senhor. Mas tente alimentar, educar e vestir duas crianças, com um ordenado de quinhentos euros. Se isto não é uma competência, não sei que nome lhe dar.
Tirei um curso de empregada admininstrativa, nível I, que não me serviu de muito, visto que o que conta, são as experiências profissionais. Trabalho desde os meus dezasseis anos, em restauração.
Nunca tirei nenhum curso de computadores, mas escrevi e editei quatro livros, três deles infantis. Tudo feito por computador, e através da Internet.
Estes são só alguns exemplos de competências que tenho vindo a adquirir ao longo da minha vida.
Esta é a minha história, não estudei na altura que o devia fazer, porque a vida não permitiu. Conheci imensas pessoas que tiveram a mesma sorte. Isso pode, como o Sr. diz, fazer-nos ignorantes, mas não incompetentes. Existem pessoas a recorrer ao processo de RVCC, que na altura em que deviam ter estudado, cultivaram campos, tomaram conta de animais, e trabalharam duramente para ajudar a colocar mais um prato de comida na mesa. Esses "ignorantes", foram o motor bruto deste país, sacrificando os seus corpos e as suas vidas, para sobreviverem, em troca de muito pouco. Hoje não é assim, mas antes de pagarem para deitarmos o nosso produto no lixo, ou simplesmente para não produzirmos, o nosso povo vivia da agricultura e tinha orgulho do que era seu.
Posso dar-lhe vários exemplos de "ignorantes" que entraram em fábricas com treze anos de idade e que depois de lá deixarem sangue, suor e lágrimas, foram dispensados com uma indemnização de miséria, ou mesmo sem nada.
"Ignorantes" que desistiram da escola, porque tinham familiares doentes que eram o sustento da família.
Os exemplos são tantos, quantas as auto biografias que existem. Cada um com a sua história, cada um com as suas capacidades e competências, mas sem validação aos olhos de uma sociedade que vive cada vez mais das aparências. Deixo aqui o convite, para que leia algumas destas histórias.
Somos ignorantes, sim. Somos ignorantes por não termos tido a esperteza de tirar um curso a um Domingo, ou de não termos copiado nos exames, ou simplesmente porque mesmo no meio da maior dificuldade, optarmos pelo correcto e não pela burla e pelo roubo. Somos ignorantes, porque bebemos diáriamente o veneno que nos entra em casa pelos meios de comunicação, dizendo que devemos dar poder aos mesmos que destruíram este país, e que o remédio é "apertar o cinto". Mas principalmente, somos ignorantes por aceitar e interiorizar que não somos merecedores de Novas Oportunidades, nem de uma vida melhor. Que não temos valor ou que temos apenas o valor que os outros nos dão.
Mas como vê, não preciso de ter um curso universitário para lhe dizer o que penso. Enquanto tiver uma mente para pensar por mim, aceitando todas as criticas construtivas, e apagando o lixo que me tentam impingir, terei sempre uma oportunidade de validar as minhas competências. O meu agradecimento vai directamente para os profissionais de formação que me acompanharam e que me mostraram que somos muito mais do que um certificado de habilitações. Somos muito mais do que números, sentados num centro de emprego. Somos cidadãos portugueses, somos filhos de uma nação conquistadora que nunca se deteve por mais negro e obscuro que o horizonte se apresentasse. Neste momento, não tenho vergonha de o dizer: Posso ser apelidada de ignorante, mas nunca de incompetente.
Com os melhores cumprimentos, despeço-me atenciosamente.

Sónia Marques