Bem vindos!

Conta-me histórias é um blog onde vos mostro alguns dos meus trabalhos e onde podemos falar de tudo um pouco. Apresenta certos assuntos que acho relevantes e interessantes, sempre aberta a conselhos da vossa parte no sentido de o melhorar. Obrigado pela vossa visita. Fico à espera de muitas mais.

domingo, 28 de julho de 2013

ESTÁ NA HORA DE DEIXAR DE SER VITIMA



Na minha família materna somos muitas mulheres. Dei-me ao trabalho de contar e descobri que somos 12. Uma dúzia de fêmeas com idades compreendidas entre os dois e os oitenta anos. Talvez seja carma, vicio ou esteja impregnado nos genes, mas as mais velhas não têm sido felizes nas suas relações. Todas elas sem excepção uniram-se a parceiros que as controlaram a vida toda ou quase toda. Digo quase todas, visto que algumas se separaram antes de enlouquecer e uma delas desprendeu-se deste carma através da viuvez.  
A violência física não vem à história, mas a psicológica é prato diário. Desde amantes, maus tratos verbais, humilhação, constante mal dizer das suas atitudes ou escolhas, promoção do isolamento de todas as pessoas que se tentam aproximar, mentiras ou meias verdades que matam aos poucos, tudo serve para criar a "esposa perfeita e dedicada". As que se mantêm nesta amalgama de dor e sofrimento são os espelhos das que se conseguiram libertar de todo este jogo baixo e desigual. Se quisesse saber o que o futuro me reservava ao perpetuar uma relação assim, bastava-me olhar para elas. Se em tempos a desculpa de se manterem presas a estes homens era "os tempos serem outros", hoje a desculpa é "gosto tanto dele" ou "será que fiz tudo o que estava ao meu alcance". 
Cheguei à conclusão, por experiência própria, que não existe uma altura certa ou errada para resgatar o que resta da nossa auto estima e dar um murro na mesa. A altura certa é tão somente aquela onde percebemos o mal que nos estão a fazer, que não merecemos tal tratamento e que está na hora de mudar de vida. 
Se custa? Custa. Custa horrores, pois por mais ajuda externa que tenhamos, é algo que temos que fazer sozinhas. Assim como morrer e nascer, as grandes decisões da nossa vida são tomadas assim: de repente e completamente sozinhos. 
Podem usar-se de todas as desculpas para não sair duma situação de dor extrema como esta: os filhos, o amor que ainda sentem, as contas para pagar, para onde ir, será que fiz o que estava ao meu alcance para isto dar certo, não tenho forças, só me apetece morrer, etc.
Vamos falar sobre estas desculpas que, a bom ver, não passam disso mesmo:
- os filhos: Nenhum filho gosta ou crescerá saudável e feliz ao ver o pai ou a mãe em sofrimento. Tome mais o partido de um ou de outro, não serve de desculpa. A nossa missão é encaminhar os filhos através do amor e do exemplo. Ora, uma mãe ou um pai infeliz e sempre nervosa(o) não está a dar o melhor de si. 
- o amor que ainda sentem: Será que não estão a amar mais o outro do que a vocês mesmos? Isso não é amor incondicional. Isso é burrice e pode ser fatal. Amor a mais também mata e nem sempre é o suficiente para mudar o comportamento do outro. Pelo contrário: às vezes é a ponte que liga ao abuso e ao domínio do outro sobre nós.
- as contas para pagar: Pense que se morrer amanhã, as contas continuarão por cá. O mundo não para com a nossa morte. Devagar se vai ao longe. Será difícil, mas não impossível. Tal como uma cura, tem que se levar um dia de cada vez.
- para onde ir: Esta é diferente para cada um, mas existe sempre um cantinho para recomeçar. Não será cómodo ou luxuoso, mas para inicio de vida, pode chegar um quarto ou uma casinha pequena. O mais importante é chegar ao final do seu dia e ter a paz de espírito há muito perdida. 
- será que fiz o que estava ao meu alcance para isto dar certo?: Responda sinceramente: há quantos anos se encontra nessa situação? Se não foram anos, os meses que vive nesse sistema não serão os suficientes para perceber que ninguém muda? Se são anos, quantos mais está disposta a dar, em prol de uma pessoa que não lhe dá o justo valor? Se essa pessoa não a acha merecedora, porque não a deixa partir? Pode ser que alguém ache o contrário. Pode ser que você se ache digna de uma vida diferente.
- não tenho força: Esta é a que mais gosto. Então a minha amiga não tem força para se levantar e tomar as rédeas da sua vida, mas tem força para aturar desaforos e maus tratos diários? Vamos lá falar de prioridades. Quando chegamos a esta desculpa, trata-se de um jogo de "mata ou morre". Se não tem forças, arranje-as. Há muita gente que precisa de si no mundo. Mesmo que pense o contrário. Vamos lá a deixar de ser preguiçosos e a mudar o rumo da vida. Pense no ultimo dia em que se recorda de ter sido feliz. Volte a esse dia e recarregue as baterias. Tome essa pessoa de outros tempos como um ídolo que deve e tem de seguir. Embora diga que isso já foi há muito tempo, pense que hoje tem mais aprendizado do que naquele tempo. Isso é uma mais valia. Hoje já é mais difícil de se deixar enganar. 
- só me apetece morrer: Esta é uma maneira prática de ver as coisas. Doi tanto que se calhar é melhor morrer para que a dor passe. Acredite no que acreditar, como pode ter a certeza de que depois da morte a dor passa? E vai desistir assim? Sem dar luta? Porquê? Quem tem o direito de a empurrar para o abismo e ainda ficar por cá a rir-se da sua pouca sorte? Tirando a própria vida apenas vai dar força à convicção de quem por tanto tempo a(o) tem chamado de fraca(o). Pois fraco é aquele que precisa de humilhar para se sentir superior. Fraco é aquele que bebe para "esquecer". Fraco é aquele que não consegue levar uma vida de amor e tem que amarfanhar os que o rodeiam para se fazer notar. 
Por isso chega de desculpas. O dia da mudança só peca por tardio. Já devia ter acontecido ontem.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A fome da alma

Desliga a TV
Desliga-te do mundo
Desse mundo podre
Que te impingem a cada segundo
Desliga-te daqueles
Que te prometem o alivio
Desliga-te da mentira
Do ladrão disfarçado
Desliga-te daquilo
Que te traz amordaçado
Olha em redor
Diz-me antes o que vês
Amigos com fome
Conhecidos de cara no chão
O teu vizinho descalço
O outro que implora o pão
Será assim tão difícil
Estender a mão ao semelhante
Será preciso mais sofrimento
Mais tareia deste poder errante

De que precisas tu
Para estender uma mão amiga
Chega de desculpas
Que é da crise, que é da fadiga
Pois por mais conhecedor que sejas
Por mais vivido e atento
Tens que ser portador 
De amor e alento
Está na tua mão a mudança
Peço-te, faz a tua parte
Se não poderes mudar o mundo
Ao menos muda a tua sorte
E contigo leva os que caem
Dá-lhes a tua palavra, a tua calma
Pois mais urgente que a do corpo
É a fome que nos vai na alma




Testemunho de uma sobrevivente

Nada melhor para explicar o inexplicável do que contar a nossa experiência de vida. É por isso que hoje vos falo de algo que mudou a minha vida para sempre: 
Reiki

Sempre que falo de Reiki surpreendo-me com o facto de existirem ainda tantas pessoas que desconheçam o que é esta ferramenta de cura. Por outro lado, se há muita gente que não sabe o que é, existem outros tantos que já têm cursos e que o utilizam na sua vida diariamente. Não me vale de muito explicar pormenorizadamente o que é isto do Reiki, visto que qualquer um se pode informar através da Internet ou de outro meio qualquer. Mas não é a teoria que prova e sim, a prática. Como tal, vou passar a contar-vos a maneira como me foi apresentada esta arte milenar.
No ano de 2001 a vida não me corria da melhor maneira. Tinha tudo o que um comum mortal chama de normal: emprego, casa, marido, filho. Mas faltava-me algo. Era como se de repente me perguntasse constantemente qual o motivo de andar por cá. É certo que toda esta ansiedade e tristeza que carregava no peito derivava de uma depressão profunda, daquelas que mandamos constantemente para baixo do tapete, por não termos tempo ou vontade de lidar com ela. O acumular de situações mal resolvidas e de trazer o mundo às costas, estava a levar-me a um esgotamento. Um certo dia não aguentei mais e fiz a ultima tentativa de me agarrar a algo que me ajudasse a vir ao de cima. Levantei-me de manhã com um esforço quase sobrenatural e arrastei-me para o centro de saúde. Não conseguia encontrar uma explicação lógica para a minha aflição. Parecia que tinham aberto uma torneira no meu cérebro, tal não era a quantidade de lágrimas que me escorriam pelo rosto. Lembro-me de pensar, sentada na sala de espera do médico, que quem me observava naquele estado devia pensar que estava louca. Chorava que nem uma Madalena, desesperada, angustiada e sem razão aparente. 
Depois da consulta dirigi-me à farmácia mais próxima, com uma receita do tamanho de um boi, para aviar. A depressão diagnosticada pela médica de familia, acompanhada de uma baixa de 15 dias, manteve-me em casa fechada, adormecida por comprimidos, triste, exausta e com uma sensação de impotência enorme. 
Passados 8 dias de medicamentos, passeios do quarto para a sala, da sala para a cozinha, retornando para o quarto, algo me fez desistir de tomar os comprimidos e acordar para a vida. Sei que não o devia ter feito de repente, mas cheguei à conclusão de que os comprimidos apenas me adormeciam o corpo. Não me tratavam a angustia ou o desespero que carregava no peito. Pensei no quanto estava a ser egoísta em me deitar num quarto escuro, não querendo ver ninguém, falar com ninguém, ou mesmo fazer fosse o que fosse. Pensei no suicídio várias vezes, mas o amor pelo meu filho na altura com um ano, a vontade de o ver crescer, não me permitia acabar com a minha própria vida. Entendi então que ainda existia uma razão para continuar a respirar. Que egoísta estava eu a ser ao privar o meu filho de me ter a seu lado. Que fraca estava eu a ser quando tinha uma vida tão melhor do que muitos por aí. Como podia desperdiçar tudo isso com a desculpa esfarrapada de que estava triste ou cansada? 
Talvez fossem os comprimidos a fazer algum efeito, mas acredito hoje que nada acontece por acaso. Decidi ir trabalhar antes de terminar a baixa. Continuava desalentada, mas com um propósito certo: iria procurar ajuda fosse onde fosse para aliviar o meu estado.
E é bem verdade que quem não pede não ouve Deus. Por esses dias uma amiga falou-me no Reiki. Sem saber ao que ia, levou-me a casa de uma outra amiga que depois de um cumprimento sorridente me perguntou se podia fazer Reiki. Disse-lhe que não sabia o que era e depois de uma breve e simplificada explicação onde me disse que era energia através da imposição das mãos, dei o meu consentimento. Afinal, nada do que aquela mulher me fizesse podia ser pior do que aquilo que eu sentia no momento. 
De pé, no meio da sua sala, ela começou por se agachar e colocar-me as mãos nos pés. Lembro-me de pensar que as suas mãos ferviam. Soube-me bem este primeiro contacto. Passou às minhas pernas e o calor continuava a ser acolhedor. Ao chegar ao chacra da raiz (zona pélvica) comecei a ter visualizações de situações passadas na minha adolescência. Lembrei-me de uma relação que tive com um homem que me usou de todas as maneiras possíveis. Senti uma vergonha imensa. Como pude consentir tal humilhação?
Ao passar ao chacra sexual (zona do umbigo) o calor das suas mãos parecia ter aumentado. Subiu mais um pouco, colocando as suas mãos no chacra do plexo solar (zona do estomago) e foi aí que a torneira se abriu. Recomecei a chorar embora de uma forma comedida. Visualizei as discussões que tinha com o meu parceiro, chorei de raiva, uma raiva que marinhava por mim acima e se alojava na minha garganta como uma bola. Continuou a subir e colocou-me as mãos no chacra do coração e foi aí que tudo se complicou. Na tentativa vã de me controlar e não desatar aos soluços, foi como se uma represa tivesse rebentado de tão cheia e as minhas amigas lágrimas corressem agora como um rio desenfreado. A visualização foi do meu pai, falecido havia já 6 anos. A dor da sua partida, aquela que eu tentava a todo o custo disfarçar e esquecer, tinha vindo ao de cima, qual copo que transborda. Lembro-me que chorei compulsivamente e soluçava como uma criança, o que levou a terapeuta a demorar mais um pouco as suas mãos naquele local. Quando sentiu que me acalmava, chegou ao chacra da garganta. A tal bola que senti anteriormente dissolveu-se passado uns minutos. Parecia até que respirava melhor. No terceiro olho ou chacra frontal (testa), visualizei o meu filho. E que lindo bebé que eu tinha. Que doçura de criança. Que abençoada era por ter na minha vida um ser tão perfeito a quem chamar de filho. Finalizou no chacra da coroa (alto da cabeça). A esta altura já eu respirava de um alivio há muito perdido. 
Depois daquela sessão, nunca mais fui a mesma. Nos primeiros dias andava um pouco à toa a tentar racionalizar o que me tinha acontecido. Como podia aquela mulher trazer ao de cima tanta tralha que eu tinha (pensava eu) tão arrumadinha no meu sótão. Como conseguiu mexer tão profundamente no meu intimo sem proferir uma palavra nem me perguntar nada? Foi como se me desarrumassem as gavetas todas e me fizessem tomar a iniciativa de arrumar tudo como deve ser. Sei hoje que o Reiki é mesmo assim, o terapeuta é apenas um canal, tudo o resto se passa dentro de nós com uma pontaria certeira.
Havia muito a aprender e a digerir, mas desta vez eu sabia que existia uma ferramenta que me ajudaria a dar a volta por cima e a recarregar baterias. Foi isso que me levou a estudar sobre o Reiki, a querer saber mais e posteriormente a fazer o primeiro nível. 
Não posso dizer que a partir daí tudo na minha vida se resolveu. Muita coisa menos boa se passou na minha vida depois disso. Coisas, no entanto, que tenho a certeza seriam muito mais difíceis de ultrapassar sem esta ajuda preciosa. 
O Reiki não me fez um ser superior, apenas me deu as luzes para fazer algo diferente e enfrentar a vida de uma maneira mais suave. Além disso é uma ferramenta muito completa, pois além de nos ajudar quando recebemos, também energiza quem o transmite e podemos sempre passá-lo a quem necessite.
Por isto e muito mais considero o Reiki uma ferramenta essencial no desenvolvimento humano.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O que dizem as cartas




As pessoas se surpreendem quando digo que "deito cartas". Fazem um monte de perguntas e a mais usual é "onde tiraste o curso?". Ficam ainda mais espantadas quando digo que não tirei curso nenhum. Existem muitas pessoas que trabalham com o tarot. A explicação é simples: 
qualquer um pode fazê-lo
A única coisa que esta ferramenta exige é estudo e sentir a energia das cartas. Comecei a dar-me com as cartas de tarot de um modo simples e natural. Tive curiosidade em possuir um baralho e em estudar sobre o assunto. Dizem os mais experientes do exoterismo que qualquer ferramenta de trabalho não é escolhida pelo terapeuta, mas sim o contrário. Foi o que senti quando pus os olhos no meu baralho. A primeira vez que vi aquelas cartas soube, sem margem de duvida que me pertenciam. As imagens falaram-me de imediato. Todos os símbolos e cores das cartas me contavam histórias. Era como se aquele encontro já estivesse planeado. Há quem diga que acontece o mesmo com os pêndulos, cristais e amuletos.  Li bastante sobre o assunto, enquanto estudava todo o simbolismo que as cartas me transmitiam. Basicamente comecei por olhar cada uma delas separadamente e sentir o que me transmitiam, associando assim palavras chave a cada uma. 
Se há coisa que o ser humano pretende saber é sobre o futuro. E aqui começa a dificuldade deste trabalho. Costuma dizer-se sobre quem  lê cartas ou trabalha com o pêndulo que "se fosse verdade, saberia os números do euro milhões". Ora aqui reside o misticismo que pretendo esclarecer. O tarot, é uma ferramenta de orientação. Ao ler as cartas, pode desvendar-se situações passadas, actuais e dar luzes quanto ao futuro. Isto é assim, porque ninguém pode interferir com a maior das leis Universais: o livre arbítrio
Se, por exemplo, eu fizer uma leitura a uma pessoa que se prepara para fazer um determinado negócio e ler que será uma boa aposta profissional, e essa pessoa se basear por completo na minha leitura e se deitar a dormir, a história muda de rumo. Nada se faz sem trabalho e dedicação. Logo, não existe certo ou errado, perto ou longe, correcto ou incorrecto. O tarot apenas indica os rumos mais certos a tomar, considerando o caminho que a pessoa se propõe a seguir. Alerta para os perigos de determinadas posições que o consultante está a adoptar, para o encaminhar numa direcção mais certeira. Não adianta fazer a mesma pergunta de mil maneiras diferentes, nem tentar moldar as respostas ao seu gosto, pois as cartas não se deixam iludir e manterão a mesma afirmação. Podem crer, eu já tentei. 
Outra coisa que a maioria das pessoas não sabe ou não acredita, ou mesmo não quer acreditar, é que qualquer terapeuta nunca trabalha sozinho. Antes de uma leitura existe uma preparação prévia que faz a ligação com os guias e equipas de luz que trabalham com  pessoa. As respostas do cartomante não vêm do seu imaginário, mas sim de um grupo de entidades ( tanto do terapeuta, como do consultante) que trabalham em conjunto para responder e orientar. Como tal, o cartomante é um canal e o baralho é a ferramenta de trabalho. Nada é feito sem o consentimento prévio de todos. 
Há que desmistificar esta e outras formas de ligação com o espiritual. Há agora, mais do que nunca, uma necessidade de mostrar sem tabus o que, ao contrário do que a maioria pensa, são estas ferramentas ao alcance de todos e que podem ajudar a superar situações menos boas da nossa vida. 
Em caso de interesse, terei muito gosto em fazer-vos uma leitura. 
Enviem mensagem para: sm08434@gmail.com
E não vale dizer que não tem dinheiro para a consulta. Entre em contacto e chegaremos a acordo quanto ao preço.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Uma mão cheia de nada

Hoje fui ao shopping comprar gomas. Quem tem filhos sabe bem do que falo. A corrente que se gerou de seguida foi quase mágica e deixou-me a pensar. Depois de pedir e escolher as ditas gomas, a senhora da lojinha disse que não tinha troco. Como pretendia meter o euromilhões, rumei à papelaria em frente, com intenção de trocar dinheiro. Esperei na fila, coisa normal numa sexta feira, com a cabeça nas nuvens como todos aqueles que imaginam o que fariam com o prémio tão cobiçado. Quando chegou a minha vez de ser atendida, devia estar na fase em que me apercebo de que tudo não passa de um sonho partilhado com todos os que tentam a sua sorte e quase impossível de se tornar real. O senhor da papelaria disse uma frase que mudou o rumo desta história:
- "Então hoje que vai receber um prémio de milhões, está com essa cara tão triste?"
- Promete? Promete-me que este boletim é o premiado?
- "Claro que é!" - Respondeu o homem com um sorriso rasgado.
Saí da papelaria com um sorriso de esperança e divertida com o comentário. Contei o sucedido à senhora das gomas que me pediu o que todos pedem:
- "Olhe, se sair, não se esqueça de mim. Compra-me a loja e pode ser que eu finalmente possa fazer o que sempre quis."
Curiosa, perguntei-lhe qual o seu sonho. Contou-me que foi cabeleireira durante alguns anos e que o sonho passava por ter o seu próprio salão. O facto de ter trabalhado sempre para outros levou-a ser explorada e a vida fez o resto. Saiu da sua profissão para ajudar o marido numa empresa de artes gráficas, de que era proprietário. Perguntei-lhe se nunca pensou em receber clientes em casa ou num espaço seu, dando continuidade ao sonho e fazendo o que realmente gostava. Respondeu que tentou durante algum tempo, recebendo as clientes em sua casa. Tudo mudou no dia em que o marido impediu que aquilo continuasse. Dava-lhe mais jeito que a esposa se mantivesse a seu lado, trabalhando na gráfica. Prometeu que lhe daria um ano de trabalho para organizar as contas e que depois seria a sua vez de montar o tão sonhado salão. Passaram seis anos e a vontade e oportunidade de seguir o sonho, morreu com ele. Hoje, trabalha numa loja de gomas, de um centro comercial de bairro. A firma do marido há muito que faliu e o sonho era feito de álcool e evaporou. No rosto daquela mulher apenas reside a tristeza de nunca ter dado um murro na mesa e um encontrão na vida. Nos olhos dela, a amargura de quem seguiu o pensar do outro, desperdiçando a vida que poderia ter tido. O erro não foi dele. O erro não foi da crise. O erro não foi da vida. O erro foi tão somente dela que se acomodou ao que os outros escolheram para si. Pode até desculpar-se com a triste frase de que "os tempos eram outros". Mas não se pode esconder atrás de desculpas para se esquivar da verdade: a culpa foi somente dela. Ninguém é de ninguém. Ninguém tem o poder de viver por nós, a menos que lhes entreguemos esse poder. Fiquei a pensar em quantas "senhoras das gomas" existem por esse mundo fora. Deixei a promessa de voltarmos a falar do seu sonho assim que me saísse o euromilhões. No final, ainda lhe perguntei:
- Nunca viveu o seu sonho e o que é que ganhou?
- "Uma mão cheia de nada." - Respondeu.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Mensagem

Se a caminhada é solitária, porque procuras tu o afecto dos outros? De que te serve servires, se ninguém entende as tuas dores? O que esperas tu tirar de outro, se te sentes vazia e exausta? Enche o peito de ar. Respira, para variar. Sente o sangue que te corre nas veias. Sente o coração bater por algo que queres de verdade. Antes de servir há que sentir. E não te permites fazer isto sempre que sentes a dor do outro. Pois se nem a tua consegues classificar. Qual o rumo a seguir? Pede, pede muito. Pede com os sentidos e não com esse grito gasto. Pede por ti e não pelo outro. Pede para ti e só depois estarás em condições de servir o próximo. Nunca duvides que estamos aqui torcendo pela tua vitória. Nenhum pai deposita a confiança num filho sem o amar incondicionalmente. Esse é o ingrediente que falta à maioria da Humanidade. Trabalha o amor incondicional. Ama-te incondicionalmente. Confia uma e outra vez que Ele nunca te largará a mão. Confia que nada acontece por acaso e a dor que sentes é apenas a chamada de atenção que precisas para mudar o rumo da história. Chora. Deita tudo para fora, pois só depois de estares vazia é que podes receber mais e mais informação que te ajude na caminhada. Está na hora de escutar, mais do que de falar. E tantos são os que falam e tão poucos os que escutam. Educa o teu ego, essa criança insolente e mal criada. Diz-lhe que nem sempre pode ter o que quer. E ama. Ama de verdade. Essa é a chave para tudo na vida.

Rui Marques

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O mistério de Dona Bianca

Cada vez acredito mais que todos possuímos um contador de histórias dentro de nós. Uns contam a história simplesmente, outros guardam-na para si mesmo, outros ainda traduzem isso em arte. Deve ser por isso que existem cada vez mais pessoas a escrever e publicar livros. A necessidade de comunicação a isso obriga e é sempre importante ouvir ou ler uma história de outro alguém, pois podemos rever-mo-nos e aprender mais um pouco. Por isso, hoje trago um cheirinho de um livro que está no forno a ser cuidadosamente cozinhado. Directamente do Brasil, e em exclusivo no "Conta-me histórias", apresento um trecho do próximo livro do meu amigo Ricardo Silva e Sousa.  Espero que gostem e que vos aguce a curiosidade. Boas leituras!

Lua Branca
De Ricardo Silva e Sousa

Era uma vez, numa cidadezinha na serra, uma mulher que vivia sozinha e estava sempre no mundo da lua. Ninguém sabia de onde ela tinha vindo. Apareceu na casa do finado Seu Leônidas, muito tempo depois dele ter ido desta para melhor. 
Seu Leônidas era um homem misterioso, que não falava com ninguém. Nasceu e cresceu junto com a cidade, mas ninguém sabia da vida dele. Não tinha família, não tinha emprego, não tinha ninguém. A casa em que vivia foi construída por ele e levou anos para ficar pronta. Depois que morreu, do quê ninguém sabe, a casa ficou abandonada durante muitos anos. Até que a mulher apareceu. Diziam que era filha de Seu Leônidas. Outros diziam que era sobrinha. Outros, mais fofoqueiros, diziam que era sua amante, que vivia em outro lugar. 
Dona Bianca, este era o nome dela, passava os dias na varanda da casa, bordando um pano comprido, sem parar. Ia até a venda da cidade para comprar linha e alimentos. Outra vezes, podia-se ver Dona Bianca cuidando das plantinhas que ficavam na frente da casa. 
Quando Dona Bianca andava pela rua, os mais velhos ainda tentavam um “bom dia, boa tarde, boa noite” mas Dona Bianca não falava com ninguém. Só com seu Elias, dono da venda, que, depois de algum tempo, já deixava separada a compra de Dona Bianca para evitar falar com ela. 
Pele muito branca, olhos de cor cinza claro, vestindo sempre o mesmo vestido de chita comprido até os pés, sandálias de couro cru, Dona Bianca tinha um mistério. Quando a lua estava na fase nova, Dona Bianca ficava magrinha, mas tão magrinha que seus braços até pareciam feitos de arame. Conforme a lua ia crescendo, Dona Bianca ia engordando, até ficar redondinha, bem gordinha, quando a lua estava cheia. E assim vivia Dona Bianca. Minguando, minguando, crescendo, crescendo juntinho com a lua. 
Um dia veio a notícia: _Vai haver um eclipse total da lua, como nunca tinha sido visto naquela cidadezinha! 
Veio gente de toda parte. Cientistas, jornalistas, artistas, repentistas, sionistas, kardecistas, clérigos, esotéricos, macumbeiros, feiticeiros, políticos, holísticos, tarólogos, ufólogos, todos para ver, contar e cantar o eclipse lunar. Naquela noite, no auge da lua cheia, Dona Bianca, gordinha como a lua, foi até a praça onde todos estavam esperando o eclipse lunar. Dona Bianca desta vez estava muito grande. Seus braços nem encostavam no corpo de tão gordinhos. Nas suas mãos quase não se viam seus dedinhos. Dona Bianca estava assustada. Seus olhos fitavam a lua sem piscar, como que esperando algo acontecer. De repente, suas lágrimas começaram a cair de seus olhos imóveis. O eclipse lunar tinha começado. 
O Prefeito da cidade mandou apagar as luzes para aumentar a grandiosidade do momento. O Padre rezava um terço, o pastor um Salmo, a Mãe de Santo um ponto, o Judeu a Tora e Seu Elias, o Alcorão. Todos atentos olhando para cima, todos eufóricos com o acontecimento. Aos poucos a lua foi sumindo, sumindo, até que sumiu de vez. Depois de um silêncio profundo, que durou alguns minutos, uma voz gritou: _Ela está voltando! A lua estava voltando a aparecer devagarzinho. Aos poucos a luz da lua voltava a iluminar a praça. Quando estava bem cheia no céu, o Prefeito mandou acender a luz da cidade. 
Para surpresa de todos, onde estava a Dona Bianca, só estava seu vestido de chita e as sandálias de couro cru. Dona Bianca tinha sumido. No chão, junto do que sobrou de Dona Bianca, pequenas gotinhas brilhavam com o reflexo da lua. Eram as lágrimas de Dona Bianca. As gotinhas cresceram, juntaram-se umas nas outras e viraram uma pocinha de água. 
O Padre fez o Sinal da Cruz, o Pastor rezou um Salmo, a Mãe de Santo acendeu uma vela, o Judeu leu a Tora balançando seu corpo e Seu Elias pegou seu lenço e enxugou as lágrimas de Dona Bianca. Até hoje Seu Elias guarda, na última prateleira da venda, um vidro com as lágrimas de Dona Bianca. Quando a lua cresce, o vidro fica cheio. Quando a lua está nova, o vidro fica quase vazio. 
Desde então, Dona Bianca nunca mais apareceu. Uns dizem que a lua a levou para morar com ela. Outros dizem que ela fugiu da cidade quando todos estavam olhando para o céu. Já Seu Elias, sábio do Oriente, guarda o segredo de Dona Bianca no alto da prateleira.

Crédito da Imagem -  Moon Tears - Phoenixart

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A corda partiu de tanto esticar



Eu bem prometo que vou deixar de ler jornais, de ver TV ou de tentar entender as noticias que saem disparadas em qualquer meio de comunicação, mas vira na volta estou a espreitar o que se comenta por cá, ficando sempre (ainda) espantada com o tempo que se perde a encher chouriços. Desta vez foi um artigo que tem como titulo "A melhor forma de esticar o subsidio de férias". Mas isto será alguma piada de mau gosto? O artigo começa por explicar que o Governo estipulou que os trabalhadores que ganham entre 600 e 1.100 euros receberam uma primeira parte no mês passado e vão receber a outra parte em Novembro  Quem ganha mais de 1.100 euros só vai receber a totalidade do subsídio em Novembro. 
As propostas do presidente do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) para esticar o subsidio de férias são no mínimo caricatas, tendo em conta a corda que aperta as gargantas da maioria dos portugueses.  Senão, vejamos:

“Dando como exemplo os produtos agrícolas,  tentar ao máximo usar produtos de valor acrescentado do nosso país” e no supermercado ter em atenção “ao código de barras de Portugal. Este tipo de consumo – ao qual não podemos fugir – pode ser uma boa forma de impulsionar o país”. 
 Diga lá senhor presidente, como devemos fazer isto se o preço dos produtos agrícolas portugueses estão mesmo ao lado do produto agrícola espanhol, que por sinal é bem mais barato? ( Em situação de fome, que se lixe o patriotismo). Como vamos nós fazer se parámos de produzir e parece que já nem sabemos o que é a agricultura?

- "Para não gastar todo o dinheiro do subsídio – nem mesmo no supermercado com compras indispensáveis –, aproveite para poupar e aposte em fundos de investimento e poupança-reforma ou se puder, comece já a pensar numa ajuda para o futuro dos seus filhos e abra uma conta-poupança para os mais novos."
Além de termos de esperar por Novembro para seguir a sugestão, agora ainda temos que trocar os bifes por fundos e poupanças. O mais que consigo pensar a respeito do futuro dos meus filhos é no preço dos livros para o próximo ano lectivo, que por sinal, terão de ser adquiridos em Setembro e não em Novembro. Além disso, falar em poupanças nesta altura do campeonato é o mesmo que falar no Pai Natal. (Para quem ainda não sabia o gordo de barbas brancas é uma fraude)

- "Outra das dicas do economista é liquidar créditos com juros elevados, para que se possa ver livre de cartões ou créditos ao consumo que só lhe dão despesa."
Isto era precisamente o que tínhamos em mente, até nos informarem que só teríamos direito a isso lá para o fim do ano. Em Novembro os liquidados somos nós.

E o analista financeiro da  Proteste Ineste continua...
" Aconselha-o a aplicar o seu subsídio de férias num depósito de curto prazo."
Esta tenho feito todos os meses. O depósito é de tão curto prazo que até parece magia: assim que o deposito, é logo levantado. 
Acordem, meus senhores: O POVO NÃO TEM DINHEIRO! O POVO ESTÁ ATOLADO EM DIVIDAS! JÁ NÃO HÁ POR ONDE ESTICAR! 
A corda partiu de tanto esticar, mas é bom saber que nós por cá ainda temos quem nos dê dicas de como gerir o nosso dinheiro. ( Mas só para quando e se houver dinheiro para gerir).