Bem vindos!

Conta-me histórias é um blog onde vos mostro alguns dos meus trabalhos e onde podemos falar de tudo um pouco. Apresenta certos assuntos que acho relevantes e interessantes, sempre aberta a conselhos da vossa parte no sentido de o melhorar. Obrigado pela vossa visita. Fico à espera de muitas mais.

domingo, 29 de junho de 2014

Ainda que...


Abraça-me e diz que tudo passa
Ainda que mintas e adies o que me espera
Beija-me o rosto e seca-me as lágrimas
Ainda que não as entendas ou não as expliques
Aconchega-me a alma
Ainda que seja o meu corpo a pedi-lo
Entende-me
Ainda que te vejas perdido em mim
Segura-me a mão 
Ainda que saibas que vou cair
Caminha a meu lado
Ainda que o caminho seja escuro
Alivia-me a carga
Ainda que saibas que é só minha
Permite que te encontre
Ainda que esteja cega
Dá-me uma razão de vida
Ainda que saibas que morrerei
Fica, aguenta comigo
Ainda que temas a tempestade
Só nasci e só morrerei
Ainda que lutes por mim
Mas tudo fará mais sentido
Ainda que tudo tenha um fim

sábado, 21 de junho de 2014

No meio (termo) é que está a virtude



O respeito e o medo sempre andaram de mãos dadas. Embora sejam coisas muito diferentes, sempre houve e continua a haver tendência para misturar os dois. O que se tem vindo a alterar são as personagens, o poderoso e o submisso.
Se há décadas atrás os pais eram vistos como autoridade máxima, hoje são vistos como o elo mais fraco que tem como único propósito cuidar, proteger e alimentar os filhos. 
Se os professores eram vistos como alguém superior, intelectualmente mais evoluídos e letrados, hoje a sua obrigação é aturarem miúdos mal educados, sem poderem levantar a voz, correndo o risco de processos disciplinares ou, no pior dos cenários, o despedimento. 
A sociedade foi mudando os seus costumes e as excepções à regra sempre foram demasiado evidentes. Uma coisa é certa, tem sido raro o meio termo no que diz respeito à educação das crianças. Não defendo o padrão que criámos e no qual vivemos hoje em dia. A liberdade que os jovens têm nos dias que correm, mudou de nome. Só me ocorre a palavra anticivismo.
No entanto, o que muitas vezes existia nas escolas em Portugal era de um profundo desrespeito pelos direitos das crianças. Pequenas e indefesas, muitas foram aquelas que foram abusadas pelos próprios professores, sem meio de se defenderem e com o aval dos próprios pais. 
Fosse porque provinham de classes trabalhadoras e humildes, fosse porque um professor era considerado um ser mais evoluído e que por isso deveria saber o que era melhor para os filhos, mesmo que isso incluísse uma tareia. 
Em tudo o que se rege pelo excesso, nunca pode gerar um meio termo. Essa exigência cega de castigar uma criança pequena, partindo do principio que quanto mais cedo aprender, melhor desempenho terá no futuro, gerou o pior dos pesadelos. Um pai ou uma mãe que foram mal tratados em criança, só deseja que o seu filho nunca passe pelo mesmo, adoptando assim a postura contrária de uma super protecção desmedida. 
O resultado está à vista. Hoje tudo é permitido e quem tem que se pôr a pau são os pais e os professores. 
Sempre tive sorte. Nunca levei réguadas, tendo-me ficado por um ou dois puxões de orelhas. Sempre que me queixava de um professor, lá em casa, a pergunta que me faziam era: "E tu? O que fizeste para merecer tal castigo?"
Obrigavam-me a pensar nas minhas atitudes, e ao mesmo tempo ilibavam o professor de ter agido levianamente. Aquilo aborrecia-me, mas nada podia fazer. Lembro-me de ter tido uma professora na terceira classe que era intragável. Chegou a humilhar-me várias vezes em frente à turma inteira e sei que a tortura psicológica levou a recusar-me a ir à escola. A minha mãe falou com a senhora e em vez de me defender explicou que eu era uma criança muito nervosa, pois tinha tido meningite aos 4 anos de idade e que isso tinha gerado alterações no meu estado emocional.   
Conclusão: deixou de gritar tanto comigo, mas passou a tratar-me como uma atrasada mental. Do mal o menos. Ao menos não implicava tanto comigo.
O caso de uma amiga minha, foi mais grave. Aos sete anos de idade, levou uma tareia de uma professora, deixando lhe um olho negro por uns dias e uma ferida aberta no coração por toda a vida. As lágrimas saltam dos seus olhos quando recorda o que passou. Não tanto pela tareia em si, mas pelo aglomerado de situações que provieram disso. 
Descreve-se hoje em dia como uma pessoa submissa e que se deixa pisar constantemente, anulando-se muitas vezes em prol dos outros. Não sou psicóloga, mas é engraçado analisar o que se passou há tanto tempo e transpor isso para os dias de hoje. 
A sua família é de origens humildes e trabalhadoras e quando o incidente aconteceu, passaram uma borracha no assunto. Talvez por acharem que a criança era irrequieta e que mereceu, talvez porque se sentiram impotentes perante a superioridade da professora, ou talvez por que lhes tenham dito que a dita professora estava a uns meses da reforma e que não valia a pena instaurar um processo. 
Fosse como fosse, todo este conjunto de factores e acontecimentos, moldou a personalidade da minha amiga. Hoje considera-se uma pessoa que não se sabe defender e que se sente impotente perante um filho que precisa de si para tudo. 
Dois factores importantes nesta história:
- a menina que ela foi, já não é
- o que lhe fizeram serviu para o que serviu, mas já não serve mais
Lá atrás era uma criança indefesa, hoje é uma mulher que tem como missão criar um filho e defendê-lo de gente estúpida e ignorante. O que passou, permitiu-lhe sobreviver até hoje, mostrando-se submissa e conseguindo assim evitar conflitos que poderiam marcar de forma negativa a sua vida.  
No entanto, o que passamos serve para o que serve e deve ser deixado no momento como lembrete e não como uma mágoa que temos que carregar acorrentada aos pés. Lembrei-a que talvez esteja na hora de perdoar todos os intervenientes naquele episódio e seguir em frente. Disse-me que não conseguia e aí percebi que resistia a despir o fato de submissa. Ainda se sente muito confortável nele. 
Poderá permanecer com ele vestido por muito tempo, mas isso só lhe atrasará o passo. Se queremos o meio termo, há que começar por nós próprios. Acho que a forma da vida nos dizer que temos que nos defender, é enviando pessoas que não serão de todo muito simpáticas connosco. Devemos agradecer também a essas pessoas. Talvez mais do que àquelas que nos protegem. São essas figuras que nos marcam negativamente, que nos fazem crescer mais depressa. 
São elas que nos ensinam a lidar com o pior e a dar valor ao que de melhor temos. No dia em que conseguirmos fazer este exercício de perdão e de agradecimento, gera-se uma paz que levará ao meio termo. Isto porque reconhecemos o melhor e o pior dos outros e saberemos com certeza defender-mo-nos sem agredir e respeitar sem temer.





sexta-feira, 20 de junho de 2014

A musa do amor livre e do prazer sexual

Não sei se sou a única a pensar assim, mas gostaria que chegasse o dia em que as mulheres pudessem realmente expressarem-se sexualmente da mesma forma que os homens. 
Não me refiro ao velho piropo em via publica, mas à verdadeira expressão de poderem abordar este tão famoso tema sem serem imediatamente rotuladas e acusadas de depravadas ou ordinárias. 
Porque não falar de sexo, de amor e de relações amorosas com simplicidade e honestidade?
Porque não entender de uma vez por todas que homens e mulheres não são assim tão diferentes e que sentem, respiram e se relacionam da mesma maneira.
Não, isso não é coisa só de "gajo".Elas também falam sobre isso, pensam nisso e fazem isso, cada vez com mais naturalidade. 
Para isso ser possível, muitas décadas passaram, e atrevo-me a dizer que muito ainda falta acontecer para termos o mesmo à vontade do "sexo forte". 
Foi às mulheres que foi imposta desde sempre a mordaça que não lhes permite abrirem a boca para tocarem no assunto de ânimo leve. 
O sexo há muito que deixou de ter a conotação de pecado. E o erro primário foi ter sido considerado um antónimo de amor. São coisas diferentes que se completam, tal como uma cebola e uma folha de louro. Tão diferentes na sua textura e apresentação, mas que juntos participam num excelente refogado. 
Comecei esta postagem por dizer que não sabia se era a única a pensar deste modo. Acredito que não sou. Ou pelo menos, já existiram pioneiras que devido ao seu enquadramento temporal, chocaram os mais sensíveis com a sua audácia. 
Um belíssimo exemplo do que digo é o de Leila Diniz, uma actriz brasileira, a mulher de Ipanema, defensora do amor livre e do prazer sexual, lembrada como símbolo de revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus através das suas ideias e atitudes.
Drummond de Andrade referia-se a ela dizendo: "Sem discurso nem requerimento, Leila Diniz soltou as mulheres de vinte anos presas ao tronco de uma especial escravidão."
Se tiverem coragem e paciência de ler a tão famosa entrevista dada em 1969, perceberão que esta mulher nasceu fora do seu tempo, mas com uma bagagem cheia de mensagens interessantes e que reflectem o que a maioria ainda hoje pensa, mas não se atreve a dizer. 
Basta aceder aqui para saber mais sobre esta personagem marcante:
Se quiserem investigar mais e lerem a surpreendente entrevista, acedam aqui:

sábado, 7 de junho de 2014

Tentativa e erro: de uma mãe para outra





Olá amiga.
Se fores do tipo de pessoa que gosta de ler, isto vai ser porreiro. Se não, será uma seca, mas peço-te desde já desculpa. Esta é a minha maneira de melhor comunicar. Adoro a escrita e talvez por isso não tenha muitos amigos dispostos a aturar-me. É tipo: "a gaja até é porreira, mas para a entender temos que ler a lista telefónica de A a Z." Uma seca...
No entanto, acho importante o que te vou dizer, isto porque quem me dera ter muitas vezes alguém que me desse algumas luzes. A verdade é que nenhum de nós sabe andar neste barco. Mas o mais importante não é o saber andar, mas sim aprender a não balançar muito o barco e a baixar a cabeça até a tempestade passar.
Não sou ninguém para dar lições de moral ou fazer juízos de valor. Apenas te posso contar partes da minha experiência e esperar que te sirvam para alguma coisa. 
A parte onde tenho mais experiência é em cometer erros. Antes ficava de rastos, mas quando me dei conta que o conjunto desses erros fizeram de mim uma pessoa mais forte e atenta, passei a aceitar-me melhor e a olhar no espelho sem vontade de o partir. 
Em relação ao que falamos sobre os filhos, tenho boas e más noticias. Vou amaciar-te com as coisas boas, pode ser?
Ser mãe é sem duvida a melhor condição que Deus nos deu. (e Deus só pode ser homem, para nos incumbir de mais esta árdua tarefa).
Os filhos fazem-nos sentir completas e necessárias. São uma parte de nós que nos vai amar até ao fim dos nossos dias. (embora às vezes não pareça).
Muitas vezes são o nosso porto de abrigo e aquilo que nos faz levantar do chão e lutar. Para eles apenas o melhor é exigido. 
Como mães somos responsáveis por criar os Homens e Mulheres de amanhã e isso é uma responsabilidade muito alta, mas imprescindível à continuação da espécie.
Nós, mães, somos por isso o ser mais perfeito que foi criado.
Agora que já te babas, vou dar-te um tareão. (eh, eh, eh)
Como mãe, tu és sempre e sempre serás, responsável por tudo o que diz respeito ao teu filho. Tanto as coisas boas, como principalmente, as más. 
Como isto de ser mãe não trás manual de instruções, só te resta exerceres o papel como fazes todas as coisas importantes da tua vida: tentativa e erro. (agora multiplica isto por milhentas vezes)
Tentativa e erro até ao fim dos teus dias.
Não te preocupes. Se pensas que isto é cansativo, imagina o que será se te disser que tem sempre tendência a piorar com o crescimento dele. 
Outra boa surpresa é que tu serás sempre a "culpada" de tudo o que suceder na sua vida. Se for mal sucedido, culpa tua. Se for bem sucedido, "sai mesmo ao pai".
Se estiver constipado, culpa tua, pois não obrigaste a vestir o casaco no dia 2 de janeiro de 2010. Se for forte e nunca ficar doente, "é forte como o pai."
Se for um puto pouco social e não se der com os outros, é culpa tua que não o deixas sair com os amigos. Se tiver um club de fãs, "sai ao pai, um verdadeiro garanhão".
Por isso, amiga, nunca te darão o prazer de seres vista como a geradora de um Homem completo e bem sucedido. Isto não é culpa nossa, mas sim da sociedade ainda machista em que vivemos. 
No entanto, podes sempre mandar isto tudo às urtigas. Cada um de nós faz o que tem que fazer a cada momento, baseado nas ferramentas e conhecimentos que tem nesse momento. Tu não és excepção. O que foste em 1900 e caracol, não é de certo aquilo que és hoje. Hoje és diferente e fazes muita coisa de maneira diferente. Como foi que aqui chegaste? TENTATIVA E ERRO!
Como vês, essas tentativas e esses erros, são agora teus aliados, embora tenham sido uns cabrões no passado. 
O teu filho é um miúdo extremamente inteligente e sensível. Esses são os mais complicados, pois dos mansos não reza a História.
Embora te convenças que é apenas uma criança e nem percebas como pode ter tal entendimento das coisas com tão tenra idade, pensa que eles não estão no nosso tempo, mas sim, no deles. Isto é, tu com 9 anos brincavas com bonecas e saltavas ao elástico. Eles com 9 anos, andam à porrada por diversão e fazem "likes", "downloads", falam no "chat", comunicam entre si no "Skipe"...
Conclusão, estão muito mais à frente, crescem muito mais depressa e sabem muito mais do que nós, sem que nós os tenhamos ensinado. 
O que nos resta então como mães? Cuidar, amar, respeitar, impor regras, obrigar a comer, vestir , tomar banho, cortar as unhas, arrumar o quarto... Enfim, tudo coisas que eles não gostam ou que têm como garantidas. 
Mas outra coisa que lhes podemos fazer e que cada vez menos os obrigamos a fazer é a pensar com a própria cabecinha. 
Um exercício que tento sempre fazer com o meu filho, (já vou praticando com a mais nova também), é sempre que surge um problema ou algo que eles não devem fazer, em vez de proibir ou de dar sermão, conto uma "história-mentira".
Uma "história-mentira" é uma história que aconteceu a alguém imaginário e de preferência com um desfecho trágico. Por exemplo: os putos gostam de saltar em cima da cama. Contei uma vez ao meu filho que "um primo meu, uma vez ao saltar em cima da cama, partiu o joelho em três lados. Esteve 3 meses de cama (um mês por cada lado, pareceu-me razoável). Além disso, o coitado do meu primo, nunca mais pode jogar à bola."
Esta técnica costuma dar mais resultado se a personagem-mentira for alguém próximo, mas que não possa desmentir o conto. 
Quando a guerra é sobre fazer ou não fazer alguma coisa, não vale a pena rachar-lhe a cabeça (embora seja tentador, às vezes) ou gritar como se não houvesse amanhã. Além da dor de cabeça, só vais ganhar umas pastilhas para a garganta.
Há que regatear como se estivesses na feira da ladra, mas sem o apregoar da mercadoria. Ele tem que ceder em alguma coisa, para que tu cedas a seguir. Tipo uma troca. 
Uma coisa muito importante é o facto de tu nunca o deixares esquecer que além de mãe dele, também és uma pessoa. Também tens dias bons, maus, chuvosos e soalheiros como toda a gente. Ele tem que entender, mais cedo do que tarde, que tu não és à prova de bala e que também precisas do teu espaço e tempo. Podem estar os dois em casa, cada um na sua onda, sem que isso implique falta de atenção de um para o outro. Isso só se consegue quando ele souber sem sombra de duvida que não deixas de o amar só porque precisas de descansar meia hora. Se ele é crescido para saber que não tem fome e que não quer comer a sopa, também tem que entender que hoje não te apetece brincar com ele àquele jogo de todos os dias, ou tê-lo pendurado em ti como um koala. Há tempo para tudo se houver organização. 
Pede-lhe ajuda mais vezes. Mesmo que ele faça a tarefa mal feita, pede-lhe ajuda para fazer as refeições, para te ajudar com a escolha de uns pratos novos, alguma coisa onde a decisão dele possa mudar algo. Eu por exemplo, não mudo uma divisão da casa sem pedir um conselho ao João. Isso faz com que sinta que pertence à tua vida e não é apenas um puto chato que a mãe tem que aturar. 
Existem muitas outras coisinhas, mas acho que , como sempre, já me alonguei.
O mais importante é que o ames incondicionalmente e que lho digas e demonstres sempre que possível. 
Quanto ao que os outros dizem, se tu és a mãe para acartar com as culpas, também és mãe para tomar as decisões. És tu quem dá a ultima palavra. 
E pensa, se foste forte até aqui, já tens o que é preciso para vencer. Aproveita o teu filho. Aproveita o que ele te transmite de melhor e vai corrigindo aos poucos o que achas que é menos positivo. 
E por favor, pára de te preocupar tanto. Se te serve de consolo, ninguém tem uma fórmula mágica, mas todas nós temos o dom de gerar o futuro.
Abracinhos