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Conta-me histórias é um blog onde vos mostro alguns dos meus trabalhos e onde podemos falar de tudo um pouco. Apresenta certos assuntos que acho relevantes e interessantes, sempre aberta a conselhos da vossa parte no sentido de o melhorar. Obrigado pela vossa visita. Fico à espera de muitas mais.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O que estamos nós a criar?


Os filhos são uma coisa maravilhosa. Uma pequena parte de nós que depressa se torna o todo da nossa existência. Nem tudo são rosas na educação de um filho. Pelo contrário, cada vez é mais difícil fazer um bom trabalho, visto que não se apresentam com manual de instruções e o melhor que podemos fazer é investir num cem numero de tentativas e erros, rezando para que estejamos no caminho certo. Mas a tarefa complica-se ainda mais quando a sociedade apodrece a um ritmo alarmante e não ajuda muito no que diz respeito à educação. É difícil educar um filho sob o ponto de vista de amor ao próximo, quando os nossos filhos convivem diariamente com a violência gratuita nas escolas. A única solução é percorrermos uma linha muito estreita entre a defesa pessoal e o respeito pelo outro. Tarefa quase impossível quando se juntam crianças de 10 anos de idade com repetentes de 14, que ameaçam os mais novos, munidos do seu superior tamanho e por vezes com o recurso a armas que inexplicavelmente levam para as escolas. Entre roubos e ameaças, o tão falado bullying é tratado pela lei portuguesa como brincadeiras de crianças, que depressa descambará para situações como já se vivem na América, onde um aluno dispara uma arma sobre colegas e professores. De quem é a culpa? De todos. Pais, escola, Estado, sociedade em geral, que fechamos os olhos a esta realidade, encolhendo os ombros e tornando-nos em pessoas de fé, tal como a nossa Ministra da Agricultura que reza para que chova. Isto é, em vez de soluções concretas, fazemos uma dança da chuva como os índios e esperamos que os Deuses resolvam as nossas burradas. E que tal deixarmos de falar em exploração infantil e colocarmos os meninas e meninas que já deram provas mais que suficientes que não querem estudar, a trabalhar? Podem fazer serviço cívico a sério na escola. Lavar umas janelas, despejar uns caixotes, limpar umas carteira, enfim, trabalho de braços supervisionado por pessoal da escola, e que não lhes fazia mal nenhum. Mas tinha que ser de vários dias e não de umas horas. Provavelmente isto não funciona, porque os pais dos meninos que tivessem que o fazer, os mesmos que nunca metem os pés na escola nos dias das reuniões (nem noutro qualquer), não se importavam de faltar ao trabalho para irem à escola defender o filho que até roubou um telemóvel e deu uma tareia no colega.
Mas a culpa não é só dos alunos. Tudo está mal desde raiz. As próprias escolas não dão a resposta necessária na integração e educação dos miúdos. Um caso flagrante do que digo é o da professora de História e Geografia do meu filho. Ele está no 5º ano. Esta professora deu duas semanas de aulas quando o ano começou. Meteu baixa pelo resto do período. Foi substituída por outra professora da mesma área. Até aqui tudo bem. Qualquer pessoa pode ficar doente. A turma teve sorte, pois durante o resto do primeiro período teve aulas com a professora de substituição que provou que estava ali para ensinar. A percentagem de sucesso da turma foi de 90%. Além disso, fiquei surpresa por saber, que a maior sorte foi o facto de ter sido substituída por alguém da mesma disciplina. Caso contrário, podiam ter ficado com um professor de música ou de português, que passaria a aula a fazer tempo para o toque, sem dar a matéria necessária. No segundo período a sorte acabou. A professora inicial regressou e deu nada mais nada menos do que duas semanas de aulas. Depois... bem, depois meteu baixa. Falei com a directora de turma que me disse que nada podia fazer. A professora em questão há 3 anos consecutivos que faz a mesma coisa. Parece que a senhora faz parte da mobília e ninguém faz nada para a meter na ordem. Rematou dizendo: "Sabe, ela tem problemas...". Mas eu não concordo. Quem tem um problema, é a turma. Desde o dia 27 de Janeiro que a turma não tem aulas com a dita professora. Mas desta vez, sem uma professora de substituição de História e Geografia. Agora entre professores de musica, inglês, matemática quando têm sorte e não ficam no recreio por noventa minutos esperando pelas aulas seguintes, a matéria espera por alguém que a queira dar ou pela "problemática" professora docente. Quando pergunto à directora de turma, quem se irá responsabilizar pela negativa dos alunos, esta responde que na falta do professor, será atribuída uma "nota administrativa". Isto é, na ausência de ensino, os alunos não podem ser penalizados e é-lhes dado um "3", que obriga o aluno a transitar de ano. Podemos por isso ficar descansados, pois os alunos podem não saber onde fica o próprio país, não saber o que foi o 25 de Abril, não saber quem foram os protagonistas do descobrimento do Mundo, mas sem sombra de duvidas que passam de ano com uma nota limpa. Este é o panorama das escolas publicas portuguesas. Enquanto existem centenas de professores sem colocação, professores que têm que se deslocar para longe das famílias para poderem ensinar, professores que são convidados a sair do próprio país para trabalhar, outros, com "problemas" ou simplesmente previligiados, ocupam espaço, sem serem punidos.
Concordo que hoje estou a escrever demais, mas peço a vossa paciência para que continuem a ler o meu desabafo. Vou falar-vos agora das refeições escolares. O meu filho apenas almoça na escola dois dias por semana, mas provavelmente vai deixar de o fazer. Além do comer ser intragável, não existe supervisão nos almoços, e fica sempre mal almoçado. Este é outro problema de que muito se tem falado, mas sobre o qual ninguém faz nada. O ministério da educação tem investido em projectos contra a obesidade. Talvez por isso se coma tão mal nas escolas. Pode ser que assim emagreçam. Mas tenham atenção a uma coisa: existem cada vez mais crianças que apenas fazem uma refeição decente e essa, é o almoço na cantina escolar. Poupem onde quiserem, mas não na saúde e na educação das crianças. Elas são a herança que deixaremos aos nossos netos.