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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O uivo do Lobo

Tive o prazer de assistir à entrevista a António Lobo Antunes, que passou na RTP 1. Minto. Não tive um prazer, tive vários. Como foi bom poder beber um pouco da fonte do conhecimento e da cultura deste grande senhor, que fará para sempre parte da herança do meu país. Com palavras simples, em geito de quem não tem mais expectativas a serem defraudadas, com a coragem daquele que já nada teme, sem nada a perder, a não ser o tempo, que sente a escaciar, disse tudo. Mostrou o sentimento de impotência e de revolta que se espelha cada vez mais nos rostos de todos (ou quase todos) os portugueses. Pergunta num tom cansado e de desalento: "Quem foram os malandros que fizeram isto ao meu país?" Com certeza que ele sabe. Com certeza que todos nós sabemos. Mas ninguém se atreve a apontar nomes, nesta democracia podre, que condena homens inocentes e perpetua cargos políticos aos maiores ladrões da História. Bebi as suas palavras como se ouvisse aquele avozinho que nos conta histórias de tempos idos, como se elas se estivessem a passar no momento. Falou de algo tão importante como os programas televisivos actuais, ou as chamadas revistas "cor de rosa". Respeito quem gosta de ler essas revistas e ver esses programas, mas concordo quando diz que tudo isso estupidifica a nossa sociedade e nos atrasa a nível cultural. Concordo quando diz que a evolução e o patamar cultural de um povo, se reflecte no seu dia a dia e na sua evolução social e económica. Foi claro e sincero quando disse que apenas tem perguntas e nenhuma solução milagrosa. Tal como todos nós. Mas deixou no ar uma questão pertinente: podemos ser pobres, herdeiros de vidas complicadas, mas somos acima de tudo seres humanos, portadores de uma cabeça e de um cérebro racional. Porque será que raramente paramos para ouvir homens como este, mas perdemos horas do nosso dia a ver programas televisivos que apenas nos mostram o quão fútil, um ser humano pode ser? Porque será que nos custa dar dinheiro por um bom livro, por mês, mas não nos custa comprar um jornal diariamente, onde apenas se fala de mortes, assaltos violentos, crimes de violação, etc.? Será que ao mudar as mentalidades para o que é verdadeiramente valioso, (cultura, valores familiares, amizade, amor ao próximo...) será que poderíamos mudar algo? Será que sem querer, este senhor nos está a indicar um dos caminhos possíveis para um país verdadeiramente democrático? Claro que todos andamos preocupados com o que o futuro nos reserva, mas será esse um motivo verdadeiramente forte para julgarmos aqueles que colocámos no poder e cruzar-mos os braços, esperando que façam o que prometeram? Quantos governantes prometeram e cumpriram?  Quantos de nós estamos neste momento a cumprir com o que prometemos? Eu por exemplo, prometi que daria aos meus filhos uma vida melhor do que a que tive. Mas hoje faço-o com muitas dificuldades e sei que nem sempre lhes dou o que queria. Mas será isso assim tão importante? Será que o que eu quero dar a mais, não passa de capricho? Uma das maiores preocupações no momento são as medidas de austeridade implantadas pelo governo. Compreendo que será muito difícil superar esta prova, quando contamos com os subsídios para colocar as contas em dia. Mas também é certo que durante muitos anos, chegado o Natal, a maior preocupação de todos eram as prendas e chegadas as férias, a maior preocupação era o destino das mesmas. Penso que esta "crise" de que tanto se fala, nunca deixou de existir, revelando-se agora num bicho de sete cabeças, porque a fonte secou e o tempo das vacas gordas se extinguiu. Não é um crise económica, nem financeira, é sim, uma crise social, que embora grave, nos pode fazer mudar as consciências. É acima de tudo, uma oportunidade de fazer diferente, de dizer basta, de optar por arregaçar as mangas, sem nos sentarmos de braços cruzados reclamando a refeição que nos prometeram. É uma oportunidade de deixarmos de ser carneiros que seguem o rebanho, apenas porque todos os outros o fazem. O pior erro de todos, é aquele que se perpétua por medo de fazer diferente. Por isso, não se sinta mal por não dar ao seu filho o ultimo jogo da PSP, não se sinta mal por não poder ter a mesa farta que teve em tempos. Sinta apenas agradecimento por ter comida na mesa, partilhe com os mais novos os Natais de tantas famílias que não têm nada, recordando o verdadeiro significado desta época. E se puder, se tiver forças para tal, partilhe com alguém o pouco que tem. Nem que seja um sorriso. Não porque estamos no Natal, mas sim porque é disso que a vida é feita: de Homens e Mulheres que vivem em sociedade. Transmita aos mais novos o que Ghandi dizia: "No Mundo existe o suficiente para todos, se apenas tomarmos a nossa parte."

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