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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O cancro da alma

Hoje morreu um homem.
Hoje morreu um dos maiores humoristas do mundo.
Hoje partiu alguém que nos fez rir, chorar, suspirar...
Não é um dia diferente de muitos outros. Todos os dias morrem pessoas, uns mais famosos outros mais anónimos.
No entanto não é a sua morte o que mais me choca, mas sim a forma como ela o alcançou.
O suicídio, o pulo para o abismo no intuito de fugir da dor avassaladora da depressão. Apelidados de loucos, cada vez são mais aqueles que apenas julgam alcançar alguma paz de espírito através da porta convidativa da morte. 
É chocante imaginar que a dor é tão avassaladora que nada, nem mesmo o desconhecido do que acontece depois do ultimo suspiro, é tão assustador.
Só quem passa por algo assim, só quem roça o linear da loucura pode descrever a doença. Ninguém pode ser livre para julgar uma pessoa com depressão. Não sem pelo menos ter antes cheirado o seu perfume, sentido o seu bafo quente, bebido o seu ácido.
Podem achar exagerado o facto de alguém se sentir tão infeliz e deslocado ao ponto de acabar com a própria vida. Podem não encontrar nenhuma razão plausível para que o tenha feito, mas não podem julgar algo que desconhecem.
Se soubermos que alguém próximo tem um cancro, assumimos a posição de compaixão pela pessoa. Nem queremos imaginar se um dia algo de semelhante nos passará no corpo. Apoiamos com palavras de coragem, abraçamos tentando transmitir conforto.
No entanto, se alguém nos disser que tem uma depressão, o caso muda de figura. Achamos que é um estado de espírito passageiro, e nunca uma doença. Damos conselhos estúpidos do género "mete isso para trás das costas" ou "isso é só cansaço, passa".
Ainda não entendemos que a depressão é tão somente o cancro da alma. Não se vê, não cria tumores, nem leva ninguém a quimioterapias ou a mutilar o próprio corpo. Mas pode em muitos casos, roubar a luz da vida, corroer a pessoa por dentro, e levá-la a extremos.
Este homem é apenas mais um homem, que tombou. Ninguém imaginou que alguém tão cómico, tão bem humorado, tão cheio de vida, tivesse a alma apodrecida por um cancro.
Este homem é apenas um dos tantos homens e mulheres que lutam diariamente contra uma doença que ninguém vê, ninguém ouve, ninguém sente, mas que mata dia após dia a um ritmo alucinante. 
Por isso, sempre que conhecer alguém com um excelente humor, não julgue. Não pense que essa pessoa é mais um despreocupado que nasceu para fazer umas palhaçadas. O humor é a forma mais eficaz de esconder a mágoa. E a mágoa só se despe em frente de quem vê com o coração.
Boa viagem Robin Williams. Que a tua morte sirva de aviso ao mundo e que a tua vida sirva de exemplo a muitos.

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