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Conta-me histórias é um blog onde vos mostro alguns dos meus trabalhos e onde podemos falar de tudo um pouco. Apresenta certos assuntos que acho relevantes e interessantes, sempre aberta a conselhos da vossa parte no sentido de o melhorar. Obrigado pela vossa visita. Fico à espera de muitas mais.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Alexandre Cthulhu - O que nunca foi revelado

Falei recentemente do último projecto de Alexandre Cthulhu e fiquei com vontade de saber mais e mais sobre este grande senhor e artista. Nada melhor do que perguntar ao próprio tudo o que gostaria de saber. Com a simpatia e humildade que o caracterizam, aceitou o meu desafio. 
Alexandre Cthulhu
O que nunca foi revelado

Conta-me Histórias - Não é segredo que vieste da margem Sul. Viveste lá desde sempre?
Alexandre Chtulhu - Não. Vivi 5 anos da minha infância na Alemanha (Hamburgo) e os meus pais voltaram para Portugal na segunda metade da década de 70. Desde aí tenho vivido sempre na margem Sul, sim.

CH - Quais foram as tuas influências musicais?
AC - Foram diversas. O meu primeiro "Click" deu-se aos 10 anos quando ouvi o "jailhouse rock" do Elvis Presley. Nunca tinha ouvido nada parecido com aquilo. A guitarrada do Scotty Moore, e voz do "King" deram cabo de mim (risos).
Mais tarde comecei a ouvir Bruce Springsteen, pois para além da sua voz e do som mágico da E Street Band, o que mais me encantava eram as letras das músicas: "os Highways galgados à desfilada", "a perseguição de sonhos sucessivamente encontrados e logo desfeitos", toda esta temática poética mexeu comigo e foram fortes influências para escrever posteriormente as minhas letras.
Mais tarde veio o hard rock e o Metal. Bandas como os Metallica e Iron Maiden eram as que mais se ouviam na altura. Mas eu, como sempre fui uma pessoa de buscar raízes, descobri que haviam uns tipos de Birmigham que tinham sido os pais do Heavy Metal, de seu nome Black Sabbath.
 POW! - Novo click e foi nessa altura que decidi tocar guitarra e expressar-me através desse instrumento sobrenatural. 
Tinha 17 anos.

CH - O bichinho da arte começou cedo a correr-te nas veias. É verdade que escreveste uma peça de teatro quando andavas a estudar?
AC - É verdade. Foi em 1989, estava na altura a estudar em Lisboa no CENFIM e tive que fazer um texto para a disciplina de português. A minha professora achou interessante e pediu-me que o desenvolvesse e transformasse numa peça de teatro. O titulo da peça era "A Saga do Prisioneiro" sob a temática injustiça social. Formei um grupo teatral, fui encenador e actor e a peça foi levada a cena no Festival de Teatro do Seixal.

CH - Para além do teu projecto a solo, tens os Face Oculta. Fala-me sobre a composição da banda.
AC - A banda FACE OCULTA nasceu em 2008. Temos 2 EP`s gravados, “olhos da escuridão” e “Presságios”. 
A banda é composta actualmente (por mim, que sou guitarrista / vocalista), pela Cátia, (que é minha filha e é guitarrista), pela mãe da minha filha (teclista), pelo namorado da minha filha, Telmo (baterista) e um grande amigo, o Nando (baixista).
Já percorremos o país de norte a sul, já fomos a Espanha e somos uma banda cheia de paixão por palco e pela música que tocamos.

CH - Participaste numa peça de teatro encenada pelo Chapitô. Como foi para ti a experiência?
AC - Foi em 2011, preparava-se a mostra técnica do final de ano. A minha filha estava lá a tirar o curso e proporcionou-se que eu colaborasse nessa mostra técnica como as minhas guitarradas. Mais tarde essa mostra técnica (que é um espectáculo cheio de magia e arte) foi levada para fora do Chapitô e foi exibida ao público. O espectáculo “en caixa”, que era como se chamava, teve lugar num grande armazém da Carris e foi sala cheia durante as 3 noites consecutivas. Havia uma orquestra que tocava música alternativa, e de improviso e eu tive experiências únicas, como a de fundir o som da minha guitarra com um Steel drum – Foi brutal!

CH - Num dos teus poemas, “Sonho Americano”, escreves:

 “Farei amor com a “Jersey girl”
  Sobre o capot do meu Buick azul celeste
  Viajarei com ela por toda a terra crua
  Que se estende até à Costa Oeste”

CH - Qual a tua história com os EUA?
AC - Esse poema é uma alquimia de personagens da literatura norte Americana, bem como a inclusão de algumas paisagens ( e personagens) descritas por Tom waits, Kerouac, Jim Morrinson e Bruce Springsteen. Desde pequeno que tenho um fascino pelos EUA, mas se queres que te diga, não sei como isso surgiu.
Ainda não tenho história com os EUA. Somos amigos apenas (risos). Mas estou grato pelas Reviews que fizeram ao meu penúltimo trabalho “fides”, bem como algumas mensagem bastante motivadoras enviadas por Dj `s de rádios locais, como por exemplo, Darrell Fortune da NWCZRadio (Tacoma) que disse: 
"Amazing guitar work and some wonderful Blues" - Eles são fixes!

CH - Em 2011 lançaste “Psyche”. Consta que temas como "angels" e "street racers" passaram em rádios americanas. E por cá? Como tens sido recebido pelo público português?
ACSim, esses e outros temas passaram em algumas rádios de diferentes estados (Louisiana, Arkansas, Washington, etc). Por cá, o público português tem sido fantástico comigo.

CH - Achas que Portugal é agora um mercado mais aberto a novos talentos nacionais?
AC - Tem dias (risos). Não podemos (ou não devemos) continuar a achar que só continuam a existir as mesmas bandas que singraram no mercado nacional há 30 anos atrás. Há novos (e excelentes) valores por aí!
Contudo, continuo a sentir que dentro do nosso próprio país, a nossa arte e os nossos artistas não ocupam o lugar que merecem. Desde o pós 25 de Abril que achamos que o que vem lá de fora é melhor, mas isso era há 30 anos atrás. Neste momento, já não é assim. Estamos ao nível dos melhores. Somos muito melhores artistas do que jogadores de futebol. Penso que já disse tudo (risos).

CH - O que falta ser feito no sentido de uma mudança positiva no panorama artístico em Portugal?
AC - No meu entender, faltam várias coisas. O nosso panorama actual divide-se em duas facções: A profissional/ mainstream e a amadora/ underground.
A primeira está bem: tem espectáculos durante o ano inteiro, são bem pagos, têm destaques nas rádios, tvs, revistas, etc.
Os segundos, têm de remar contra a maré. Como se explica que, por exemplo uma revista nacional que se dedica exclusivamente à música, continue apenas a dar destaque a bandas e músicos que surgiram na década de 80/90? E que quando se trata de dar a conhecer um músico / banda recente, tenha apenas direito a uma pequena peça, muitas vezes que nem uma fotografia contém?...
Também entendo que os editoriais têm de tomar decisões na base do que “vende e não vende”. Logo, isto reporta-nos para outra questão, que é a do consumo.
O público português não “consome” novos valores!
Um dos exemplos disso são os grandes festivais de verão. Somos recordistas Europeus de adesão a festivais. Mas quando se trata de ir apoiar uma banda local… Onde estão essas pessoas, supostamente amantes de musica e concertos?; Onde estão inclusivamente as pessoas ligadas à imprensa escrita, rádios, etc? (falo mesmo das amadoras); onde estão os músicos??? Como querem ser apoiados, se não apoiam também?...
Portanto a mensagem que deixo aqui para quem já sentiu na pele aquilo que estou a falar, é: Promovam a vossa arte até ao limite dos limites, apoiem pelo menos uma banda/ músico, sempre que possam, e acreditem até ao fim, porque de outra forma não é possível.

CH - Há quem diga que o teu disco "Fides" trás mais sentimento do que "Psyche". Sentes o mesmo? O que mudou?
AC - Sim, concordo. Mudou a minha abordagem musical. No “Psyche”, não estava focado em personalizar o meu som- Foi apenas uma EP de lançamento.
 Quanto ao “fides” já fui mais ambicioso, quer na composição, quer na produção do álbum. Trabalhei com um bom produtor que também ele foi ao encontro do que eu queria fazer e gostei do trabalho final. Temas como “floral Cleopatra”, “Byzantium Blues” e “beer can” são temas que personalizam o meu som. Pode-se dizer que têm a assinatura de “Alexandre Cthulhu”

CH - Com o teu mais recente trabalho “book of poems”, criaste uma parceria com a APJ, onde o lucro da venda do mesmo, reverte a favor da associação. Como tem sido recebida pelo público esta experiência?
AC - Tem sido fantástico. A APJ ( Associação Projecto Jovem) é uma instituição particular de solidariedade social sem fins lucrativos, para jovens com deficiência mental e/ou motora a partir dos 16 anos. Desde o dia em que lancei o este meu projecto/ parceria, muita gente se tem interessado por conhecer e apoiar a causa.

CH - Sobre o álbum "book of poems" de que inspiração te serviste para criar este trabalho, e como surgiu o projecto com a APJ?
AC - Nasceu de um sonho nocturno. E após esse sonho senti que tinha de dar um significado e uma valorização diferente à minha arte, contribuindo para uma causa. Falei com a minha manager, que me apoiou de imediato, e mais tarde com uma fã/ amiga, que então me levou à APJ.
Lá expus a minha ideia, que também foi logo aceite com grande interesse e entusiasmo.
Gravei o “book of poems” em casa, em take directo (trata-se de uma captação directa sem grandes trabalhos de misturas ou masterização). Também fiz um vídeo de lançamento com os jovens (o Angels) cuja produção ficou a cargo da “Evolution films”.
Chama-se book of poems porque trata-se de uma metáfora alusiva a “um livro de poemas”, que não é mais do que um caderno de rascunho, e é lá que está toda a paixão que o artista está a sentir no momento, com erros, rabiscos, rasuras, tudo.

CH - Contactaste de perto com estes miúdos. Como foi a experiência?
AC - Foi impressionante. Era uma realidade que desconhecia por completo, e portanto foi uma grande aprendizagem para a minha vida. Mando daqui um grande abraço e beijinho para aqueles jovens todos e para a equipa que trabalha com eles.

CH - Estiveste no programa “5 para a meia noite” na rubrica “son of a pitch”. Que consequências tiveste com essa pequena aparição na TV?
AC - Aquela pequena aparição permitiu-me falar do projecto, o que foi um novo desafio para mim, pois tive que elaborar um texto sucinto, mas que fosse eloquente para poder passar a mensagem para os telespectadores, e esse objectivo foi conseguido, pois houve logo um grande interesse vindo de pessoas de todo o país, com o objectivo de contribuir.

CH - Tiveste também a oportunidade de ser entrevistado pelo António Freitas, um marco de referência no que toca a entrevistas a nomes como os Metallica ou Alice Cooper. Como foi?
AC - Foi fixe (risos). Achei engraçado porque eu estava ansioso à espera para entrar para o estúdio, mas ele teve a gentileza de me vir buscar, e no percurso para o estúdio percebi que ele é uma pessoas tão terra-a- terra, que deixa qualquer individuo super calmo e bem humorado.
A entrevista foi excelente, pois ele abordou vários temas de interesse, não só da música, mas também da escrita. Alem disso falei do “book of poems”, que era o meu grande objectivo.

CH - Por trás de um grande homem, existe sempre uma grande mulher. Sei que o papel da tua manager Anabela Dias, tem sido fundamental para a tua carreira. Como descreves a vossa relação?
AC - É a primeira vez que falo da minha manager numa entrevista. O que tenho a dizer, é que ela tem um grande mérito em tudo o que tem feito relacionado com a minha carreira. Acrescentando o facto de que ela nunca tinha feito nada idêntico antes - começou do zero. Convidei-a para minha manager, porque se tratava de uma pessoa que estava sempre a divulgar o meu trabalho, gravava vídeos, procurava e contactava espaços para apresentar o meu trabalho para futuras actuações, etc .
Tudo isto por iniciativa dela. Desde aí, até a convidar para trabalhar formalmente comigo, foi um passo.
Ela tem um potencial enorme, aliado a uma grande vontade de aprender. Estou muito bem representado.

CH - Soube que já deste um concerto numa prisão. Como foi que isso surgiu? O que te passou pela cabeça ao tocares para uma população prisional? 
AC - Sim. Foi há uns anos, no Estabelecimento Prisional de Setúbal. Foi o 3º concerto de Face Oculta, e o primeiro do nosso actual baterista. Após as audições, comunicamos-lhe que o 1º concerto dele ia ser na Prisão, mas acho que ele só acreditou quando entrou lá dentro.
A manager da banda (Iolanda) sabia que eu queria tocar num local desses, e tratou de tudo para que tal se concretizasse.
A actuação foi normal, e eles gostaram. Chocou-me ver tanta gente jovem naquele espaço….

CH - Pelo que vejo as tuas artes têm uma forte tendência para a proximidade com os mais desfavorecidos ou marginalizados. Gostavas de falar um pouco sobre este teu lado mais humano e solidário?
AC - Identifico-me com o falecido actor, Marlon Brando. De facto, nunca me tinham feito esta pergunta, nem eu me tinha apercebido disso, para te ser sincero.
Isto pode soar meio esquisito, mas eu só faço o que o meu coração manda. O resto é arte.

CH - Esta é provavelmente uma pergunta rotineira mas, porquê o nome Cthulhu?
AC - Porque soa mal e esquisito (risos). O nome “Cthulhu” vem de uma figura ficcional de H.P. Lovecraft, que é uma das minhas referências da escrita do género horror/ ficção científica. Há uns anos atrás aventurei-me na escrita criativa e editei diversos contos desse género, e como mais tarde a Câmara Brasileira de jovens escritores do Rios de Janeiro me convidou para participar numa antologia, eu decidi adoptar este Pseudónimo, e assim ficou.

CH - Em relação à escrita, nunca pensaste em editar um livro com as tuas poesias?
AC - Pensar, já pensei, mas é algo que de momento não me move. Isto porque não me considero poeta nem nada do género. Apenas gosto de escrever prosa e poesia como mais uma forma de expressão artística. Nada mais.
 No entanto, escrevo e publico os meus poemas e contos num site brasileiro, o que já deu origem a uma participação num livro editado no Brasil. Dois dos meus contos de horror/ mistério foram editados numa colectânea intitulada " Irmandade das sombras".

CH - Pegando no teu poema “mensagem na garrafa”, se pudesses deixar uma última mensagem ao mundo, qual seria?
AC - Esse poema escrevi-o sob uma emoção descomunal. Mas respondendo à tua questão, nunca se sabe qual (nem quando) será a ultima mensagem que deixamos, portanto há que que respeitar e amar o próximo, sempre. Mas não deixaria nada muito elaborado. Apenas vivam a vida ao máximo e realizem os vossos sonhos.

CH - Existe ainda muito para descobrir sobre ti e o teu trabalho, mas para já penso que chegamos ao fim desta entrevista. Resta-me agradecer o facto de teres aceite o meu convite e desejar-te muito sucesso na tua carreira.
AC - Obrigado eu, ao blog "conta-me historias", pela entrevista e divulgação, bem como a todas as pessoas que me têm apoiado até aqui, e claro, um mega beijo a todas as mosqueteiras"







5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Espectacular como sempre. Nao ha meta para os teus sonhos por isso tal como tu dizes vive ao maximo e realiza os teus sonhos.
    Um abraço

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  3. lamento mas não vejo nada nesta entrevista que já não tenha sido abordada noutras entrevistas dadas pelo Alexandre Cthulhu.
    é um pouco de viro disco e toca o mesmo.

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