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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Doença do século XXI

Durante muito tempo se disse que a doença do século XXI era o cancro. Mas raramente alguém fala de uma doença com séculos de existência e que se tem vindo a perpetuar ao longo de milénios. Não sei bem que nome lhe dar, mas sei que é uma enfermidade que atinge a maioria das pessoas e que, embora pareça inofensiva,  mata. Falo da ausência do olhar. Este síndrome que muitos consideram distracção ou timidez, muitas vezes é uma doença que se propaga e de onde derivam muitas complicações. Existem muitos motivos para as pessoas deixarem de olhar os outros nos olhos. Falo especificamente do desalento que nos leva a deixar de procurar nos outros um sinal de vida. Por vezes estamos com a cabeça tão cheia que o nosso horizonte começa a focar-se na biqueira dos sapatos. Perdemos o sentido de orientação e deixamos de nos importar com o que nos rodeia. Quando esta reacção é momentânea, não faz muita moça, mas quando se começa a tornar um hábito, vira doença. Uma doença silenciosa que nos torna naquilo que não somos: meros robots que se arrastam diariamente à espera de uma outra vida que parece afastar-se cada vez mais.  Esse distanciamento, esse alheamento do mundo, cria camadas e camadas de coisas mal resolvidas que ficam em stand-by esperando uma oportunidade para se libertar. Depois da falta de foco do olhar, vem a falta do toque. Este sintoma associado, rodeia a pessoa ainda mais, entrelaçando-a numa corrente imaginária que destrói qualquer tipo de aproximação. Qualquer toque, seja ele físico ou emocional, é entendido como um atentado, como uma violação de espaço. Baixar as armas é o mesmo que se expor, que se despir na frente de uma multidão. Olhar realmente para outro semelhante pode abrir portas para um lugar desconhecido e incomodo. Mas será que é assim tão mau? Será que entregar-mo-nos e saltarmos para o abismo de sermos nós próprios pode ser algo tão tenebroso assim? Não seria melhor deixar-mo-nos ir e sermos apenas o que somos: almas errantes que caminham lado a lado e que precisam uns dos outros como de pão prá boca?
Não há médico ou remédio que cure esta doença. Apenas uma coisa a pode fazer evaporar-se como que por magia: o amor.
Decidi escrever esta mensagem, porque algo me aconteceu. Também tenho tido o meu quê de falta de horizontes e sem dar conta fechei-me dentro de um concha bem ornamentada que, pensava eu, não deixava que os outros me vissem como realmente sou. EU: com todos os meus defeitos, qualidades, dores, revoltas. Apanhada desprevenida, como todos os que se acham o maior dos trapaceiros, recebi um abraço acompanhado de um olhar que me leu a alma, de uma forma que muito poucos conseguiram fazer. Desarmada, entrei em pânico. Literalmente comecei a ventilar e a tentar a todo o custo fugir da situação. A máscara teimava em se manter firme, mas podendo enganar todo o mundo, enganar-me a mim é impossível. Não, não foi paixão. Não, não foi sexo. Foi tão somente um ser humano como eu que não se deixou iludir por uma máscara, por mais poderosa que fosse.


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