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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Alquimia interior

Somos os primeiros a levantar o dedo e a acusar o próximo, mas no que toca a perdoar, nem todos temos capacidade. Há 12 anos atrás, cometi um dos maiores erros da minha vida: traí a confiança de alguém que nada fez, a não ser dar-me a mão. Os motivos, embora importantes, nunca justificarão a minha atitude. Prova disso é o facto de não ter passado um só dia nestes últimos 12 anos, em que não pensasse no assunto com um peso no peito, pelo arrependimento. 
O que me marcou mais, não foi o facto de ter sido apanhada, mas sim a maneira como fui tratada quando a verdade veio ao de cima. Depois do que fiz, era suposto ter saído da situação, pelo menos, com uma repreensão. Talvez por ter assumido a falta, talvez pelo sentimento que a pessoa lesada tinha por mim, talvez porque a dor da traição foi maior do que qualquer vingança, ou simplesmente, pela surpresa do meu insensato erro. Talvez por tudo ou nada disto, em resposta à minha maldade, obtive um adeus suave e complacente.  
Talvez este acto benevolente que rasa o amor incondicional, me tenha atormentado por todos estes anos. Talvez.... talvez...talvez...
Não sei. O que sei é que não passou um dia em que não pensasse no que fiz, que não visse a minha atitude como algo condenável, em que não me sentisse miserável por ter mordido a mão de quem me fez bem. Depois de me recordar do episódio, ficava sempre com vontade de explicar o inexplicável, de voltar atrás, de pedir perdão. 
Hoje, tanto tempo depois, passei à porta da pessoa e percebi que não adiantava fugir do passado. Valia o que valia, pois nada podia mudar, No entanto, tinha que voltar àquele dia e tentar explicar, agradecer, expiar o meu pecado. 
Mais uma vez, nada aconteceu como eu esperava. A pessoa que eu atraiçoei, recebeu-me de braços abertos, recordando velhos tempos, onde incluiu alguns elogios à minha pessoa. Talvez até como um filho pródigo que retorna a casa. Senti no discurso daquele homem que o que foi, ficou lá atrás. Mas não para mim. 
A tentação de dizer adeus e partir sem explicações, foi muita, mas não podia fazê-lo. Não podia deixar passar nem mais 12 segundos, a juntar àqueles 12 anos. De lágrimas nos olhos, pedi perdão. Não justifiquei, pois não se consegue justificar o injustificável. Apenas voltei àquele dia e vomitei o que me pesava no peito desde há muito. 
A resposta, em forma de festa na cabeça, libertou-me do carma. O perdão foi dado, acompanhado da frase que trarei sempre no coração: "Esquece isso, pois nunca te guardei rancor."
Não sou ingénua ao ponto de pensar que tudo foi esquecido, que aquele dia desapareceu do calendário da minha vida. Porém, o que o Grande Mestre nos ensinou, pareceu-me mais certo do que nunca. 
"Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra", "Errar é humano, perdoar é divino."
Talvez a alquimia seja essa. Não transformar água em vinho ou chumbo em ouro, mas sim, culpa em gratidão e ignorância em amor. Seja como for, a angustia que sentia evaporou e deu lugar a uma imensa gratidão.

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