O maior inimigo de uma
mulher não é o homem. O maior inimigo de uma mulher é o facto de ela não saber
o quanto vale.
A sociedade quer a todo
o custo fazer passar a imagem de que vivemos em igualdade quando é gritante o
oposto. A crise, palavra bafienta e com cheiro a mofo que serve de desculpa
para tudo, é a prova viva de que uma sociedade sem mulheres levaria a um
precipitar do fim do mundo. Não me refiro apenas à procriação, mas sim à força
de trabalho e poder de sacrifício que nasce com cada uma das fêmeas desta
espécie que se diz racional.
Tenho testemunhado
durante os últimos anos o fenómeno crescente de mães solteiras, divorciadas,
abandonadas e outras mal tratadas que esgravatam a vida com a coragem e
determinação de verdadeiras leoas. Os recursos são escassos, as ajudas precárias,
a solidariedade quase inexistente, sobrando apenas alguns dedos estendidos em
tom de depreciação.
A mulher que se deita
com um homem na primeira noite continua a ser uma oferecida. Quando deveria ser
apenas uma mulher que, tal como o homem, sente desejo e cede à vontade de praticar
sexo.
A jovem que engravida
sem o desejar e que conta ao parceiro, é uma vadia mentirosa que supostamente
terá que provar que o filho é dele, antes de se falar em criar a criança que
resultou de um descuido dos dois. Até que o ADN decida algo de que o jovem já
nem se recorda bem de ter feito, a mulher acarta com todas as despesas, dores,
e transtornos que a gravidez, nascimento e cuidados com a criança impliquem.
A mulher que sofre de
maus tratos por parte do companheiro, de certeza que o fez por merecer. Por
vezes até é suposto sentir-se grata por viver debaixo do mesmo teto que o
agressor, pois sempre tem onde viver e consegue assim fazer face às despesas.
A mulher que sai de
casa em ato de desespero, levando consigo os filhos e entregando as suas vidas
nas mãos de Deus, por já não suportar ser uma sopeira a tempo inteiro, sem
retorno afectivo ou um simples reconhecimento, é uma louca. Terá que recorrer a
tribunal para fazer valer os direitos dos filhos e mesmo assim, se o pai das
crianças for desempregado ou se desempregar, terá que ficar sentada à espera
que a Segurança Social reconheça que os filhos precisam realmente de comer.
A mulher sozinha,
desempregada, com filhos, terá que se sujeitar a trabalhar no que aparecer. E o
que aparece são trabalhos com uma carga horária incompatível com os horários
escolares, mal pagos, humilhantes e pesados. Aquela que se recusar a pegar
nestas “oportunidades” de emprego, é porque não é assim tão necessitada.
Por vezes há que deixar
os menores em casa fora de horas para trabalhar. Nesse caso é melhor manter
segredo. O trabalho não serve de desculpa na hora de gerar uns trocos para
pagar a renda. Se alguém descobre, aí sim os Assistentes Sociais deste país
entram em acção e logo se abre um processo para registar mais uma ou duas
crianças em risco.
E no meio de tantas
dificuldades, as mulheres vão fazendo História e virando o mundo, envoltas em
criatividade e desespero. A famosa omelete sem ovos, toma forma no que toca a
fazer o impossível e passados alguns anos os filhos estão criados, as
dificuldades serão outras e a mulher renasce como a lendária Fénix.
Mas tudo passa e o que
não nos mata torna-nos mais fortes. É interminável o numero de histórias de
mulheres bem-sucedidas que fizeram das tripas coração e contra todas as
probabilidades, vingaram. É curioso num entanto que em pleno século XXI as
mulheres continuem com dúvidas sobre o que valem.
A maioria ainda não
entendeu que muito mais do que mães, as mulheres são as portadoras de valores e
segredos que podem gerar seres mais civilizados e poderosos. Se está a criar
uma filha, alerte-a para o mundo dos homens. Permita que ela se ame sempre em
primeiro lugar e que nunca dê segundas oportunidades a quem a maltratar. Se
está a criar um filho, eduque-o para que veja em cada mulher uma oportunidade
de ser um homem melhor e nunca uma ameaça.
Quanto a si, minha
amiga, a vida resume-se a duas coisas primordiais: fé e perspectiva. Basta
iniciar cada caminhada com fé de que o copo meio vazio de hoje, será o copo
meio cheio de amanhã.
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